Em apenas onze dias, o governo se sentiu incomodado por 14 partidos, donos da maioria legislativa.
No último fim de semana de junho, presidentes de 11 partidos se reuniram e decidiram vetar o projeto de voto impresso apresentado na Câmara por encomenda de Jair Bolsonaro.
Ontem, líderes de nove partidos resolveram rejeitar o projeto de reforma do Imposto de Renda que está sendo negociado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Seis partidos (MDB, DEM, PSDB, PSL, Solidariedade e Cidadania) subscreveram documentos de anúncio das duas decisões. Três (Podemos, Novo e PV) aderiram ontem à oposição ao controvertido projeto de mudanças na tributação.
Outros cinco (PP, PL, PSD, Republicanos e Avante) participaram do veto ao voto impresso, mas preferiram equidistância no caso da reforma do Imposto de Renda— o que não significa voto certo e favorável para o governo.
Fato relevante nesses dois movimentos é a disposição demonstrada pelos líderes para debates e definições de posições públicas e conjuntas sobre iniciativas tão polêmicas quanto preciosas para o governo no Legislativo. É novidade, pelo menos desde a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto.
Uma característica desse conjunto é a heterogeneidade de posições, aferível nas votações legislativas dos últimos 30 meses. Alguns são aliados do governo, outros ficam na oposição, e a maioria vota conforme seus interesses de sobrevivência.
Juntos, formam um bloco de ampla maioria de votos no plenário da Câmara (65%) e do Senado (69%). Com eles, é possível a aprovação de qualquer projeto de emenda constitucional ou lei complementar. Sem eles, fica difícil aprovar até mesmo um projeto de legislação ordinária. Representam o sonho de qualquer candidato à presidência, pela estrutura de campanha que mantêm nos maiores colégios eleitores de 26 Estados e do Distrito Federal.
O que os une e separa são interesses dos quais depende o futuro de cada um nas urnas. Voto impresso e reforma do Imposto de Renda são temas importantes, e por isso motivam a aproximação. Mas as conversas entre os líderes partidários tem sido mesmo sobre o problema coletivo: a eleição presidencial do próximo ano. Ainda não encontraram a saída do labirinto da polarização política no qual se acham prisioneiros.