No país que trouxe a fome de volta ao centro da agenda política e revigorou a inflação vai ficar difícil justificar aumentos salariais para o Congresso, o Judiciário e o funcionalismo público. A nova onda de reajustes salariais é incompatível com a situação de pobreza nacional.
Deputados federais e senadores programam a autoconcessão de um reajuste de 18%, similar ao dos juízes e servidores do sistema judiciário. O futuro governo Lula vasculha o orçamento para encontrar meios de dar aumento de até 4,5% para o funcionalismo.
Nos Estados, a festa salarial já começou. Em São Paulo, por exemplo, o governador, o vice e os secretários passam a ganhar até R$ 34,5 mil a partir de janeiro. O reajuste terá efeito em cascata na folha estadual de servidores.
Como os salários da cúpula do governo paulista estavam sem reajuste desde 2019, decidiu-se por aumento coletivo de 50% – o dobro da inflação do período.
Em Alagoas foi criada uma “licença-prêmio” para os juízes estaduais: eles terão direito a pagamentos retroativos de até R$ 1 milhão.
Os pobres seguem à margem dos orçamentos públicos. Em Brasília constatou-se que os R$ 126 milhões destinados ao programa federal de segurança alimentar, neste ano, são mera ficção orçamentária: de janeiro a outubro foram efetivamente aplicados apenas R$ 1,3 milhões.