Se experiência é o nome que se dá aos erros, o governo Bolsonaro acaba de ficar mais experiente. Se meteu numa grande confusão com a joia mais cara do esporte nacional: a Seleção Brasileira.
Tendo perdido o controle da pandemia, enredado em inquéritos no Supremo e numa CPI no Senado, resolveu testar a popularidade com a promoção da Copa América.
No Palácio do Planalto a negociação foi feita com celeridade surpreendente até para a cartolagem da Conmebol e anunciada em tom solene por Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, citando o “apoio” dos seus 22 ministros. “Assunto encerrado”, decretou.
O problema está na realização de uma festa do futebol num país devastado pela pandemia, cenário de mais de 472 mil mortos e com 63 mil novos casos confirmados por dia. A reação negativa foi imediata. Só quatro governadores concordaram (Rio, Goiás, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal). João Doria, de São Paulo, aceitou e recuou.
Agora, a confusão do governo é com os jogadores, que protestam. Prevê-se para terça-feira um manifesto coletivo contra a Copa América no Brasil, depois do jogo com o Paraguai pelas eliminatórias da Copa do Mundo. Ontem, era intensa a pressão para que desistam.
Pouco importa, o estrago está feito. A pressa marqueteira do Planalto deixou Bolsonaro em situação similar à do técnico Vicente Feola, ao orientar a seleção antes da partida contra a União Soviética, na Copa do Mundo de 1958:
— Logo de saída, joguem a bola no Garrincha — disse, segundo a versão resgatada por Marcio Bueno no livro Faíscas Verbais. “Ele desce pela direita, vem um russo pra dar combate e dois russos se aproximam pra ficar na cobertura. Com três russos marcando o Garrincha, sobram dois atacantes brasileiros sem marcação. Aí, é só o Garrincha correr para a linha de fundo, cruzar e…
O atento Garrincha interrompeu o técnico: — Vocês já combinaram com os russos?
Bolsonaro anunciou uma Copa. Só esqueceu de combinar com o público, o técnico e os jogadores da Seleção Brasileira.