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Jorge Pontes Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
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O mercado das fake news: o me engana que eu gosto coletivo

Não é difícil perceber, após tantas crises e desilusões com elites políticas, como os brasileiros aceitam e recepcionam positivamente as fake news

Por Jorge Pontes
13 jun 2020, 13h28
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  • A multiplicação de usuários da internet, seguida pelo evento da disseminação das redes sociais, permitiram a interconexão planetária de bilhões de seres humanos, fortalecendo fontes independentes de notícias e incrementando a diversidade de ideias.

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    A primeira consequência positiva desse fenômeno foi a efetivação de um importante passo para a independência das sociedades em relação aos monopólios das empresas de tele-comunicação e jornalismo.

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    Contudo, quando as redes sociais passam a ser utilizadas como uma das principais ferramentas nos processos eleitorais, nasce o mais deletério de todos os seus efeitos colaterais: as milícias digitais e o flagelo das fake news, potencializados pela radicalização e polarização política que vivenciamos.

    Trata-se de um problema planetário, com ocorrências já registradas em diversos países além do Brasil, como Estados Unidos, França, Rússia, México, Israel e Reino Unido, e que não se resume apenas à produção em série de mentiras, mas a construção de falsas premissas, sobre pessoas e fatos contextualmente relevantes.

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    Essa usina de desonestidades intelectuais detém o poder de operar mudanças na própria realidade. São inverdades que se consolidam e conquistam o imaginário de grande parte da população, alterando resultados de eleições e, por conseguinte, mudando o destino do próprio país.

    Incrível é, entretanto, como a nossa sociedade, em especial, mostrou-se terreno fértil para a proliferação das fake news e da ação dos terroristas digitais que as produzem e difundem.

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    Não é difícil perceber, diante de tantas e seguidas crises, e da desilusão que o brasileiro médio sofreu com suas elites políticas, como as pessoas aceitam e recepcionam positivamente as fake news, em parte motivadas pelo alcance de uma falsa realidade que alimentam como verdade.

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    Trata-se, popularmente falando, de uma situação de “me engana que eu gosto” coletiva.

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    Esse fenômeno, denominado Ilusory Truth Effect (efeito da verdade ilusória) foi identificado pela primeira vez em trabalho realizado pela Dra. Lynn Hasher, na Universidade de Temple, na Pensilvânia/EUA.

    Pois bem, é mais difícil para o indivíduo iniciar um processo interno de reconstrução (ou desconstrução) de ideias e de convicções, que causem desgosto em si próprio. Mormente quando tais premissas falsas forem repetidas centenas de vezes. .

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    O nosso intelecto, preguiçoso por natureza, não nos conduz, deliberadamente para onde não queremos ir, e não abre “portas” mentais em compartimentos onde não queremos arriscar a entrada. Enfim, como disse o escritor americano Daniel Handler, “The sad truth is the truth is sad.” (a triste verdade é que a verdade é triste).

    E esse estado de coisas, essa desolação do cenário político nacional, talvez explique o momento em que inconscientemente aceitamos (e até buscamos) fake news, teorias da conspiração ou matérias com pouco lastro de credibilidade.

    E desta forma, essas verdades ilusórias vão sendo construídas sob medida para a imensa quantidade de gente que se posicionou nos extremos das discussões políticas.

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    Por isso seguimos pedindo a liberdade de políticos comprovadamente criminosos e chamando de “mito” governantes abaixo da linha da mediocridade.

    E a insistência como somos bombardeados por essas mentiras, termina com a consolidação das fake news como realidade para milhares de pessoas.

    Há, enfim, um ambiente de desencontro, de dúvidas e de incertezas, que fertiliza o solo para o cultivo dessa cultura da difamação e da inversão da realidade.

    Mas, para muito além das trincheiras ideológicas e das considerações sobre psicologia das massas, o que a sociedade não pode ignorar, é que essas fake news são produzidas com extrema sofisticação, por estruturas criminosas organizadas e transnacionais, com suporte e financiamento empresarial, e utilizando bots (de desinformação política) programados para publicar 1 mil vezes mais postagens por dia do que um humano comum poderia fazer.

    Fake news é definitivamente um crime grave, que opera contra a democracia e em enorme desfavor do interesse público e, sem sombras de dúvidas, será mais um desafio a ser enfrentado, no Brasil, pela Polícia Federal.

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