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Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
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Beco sem saída para Cid, Bolsonaro e Cia Ltda

Seja lá o que Mauro Cid queira contar, não será novidade para a PF, por isso não terá como livrar seu pai nem seu ex-chefe

Por Jorge Pontes
19 ago 2023, 09h33

Em uma semana de grandes revelações sobre alguns dos diversos malfeitos cometidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (venda de jóias do patrimônio público e infiltração de um hacker criminoso nas eleições presidenciais), o seu “ex-faz-tudo”, o Coronel Mauro Cid – que também é partícipe em quase todas as falcatruas de Bolsonaro – trocou de advogado.

O novo defensor de Cid, o criminalista Cezar Bittencourt, resolveu começar quente. Com dois dias à frente do caso, concedeu uma surpreendente entrevista a VEJA, onde asseverou que seu cliente confessaria ter sido o próprio Bolsonaro quem determinou a venda de um Rolex cravejado de brilhantes, e que o dinheiro da venda, foi entregue – cash e em mãos – ao ex-presidente da República. Ficou no ar a ideia de que Cid estaria disposto a entregar o ex-chefe e, dessa forma, poupar sua família, principalmente seu pai, o general de Exército – da reserva – Lourena Cid, que acabara igualmente bastante envolvido nas trapalhadas do filho e de Jair Bolsonaro. A notícia da possibilidade de confissão de Cid veio como uma pá de cal para qualquer versão que Bolsonaro pudesse trazer, para se eximir de culpa no imbróglio.

Mas a verdade é que a Polícia Federal já colecionou evidências que viabilizam provar – sem muita ajuda de confissões – exatamente o que Cid ensaia confirmar…

Isso sem falar no que está por vir da quebra do sigilo dos celulares do general Lourena Cid e de Frederic Wassef, que tiveram efetiva participação no esquema, o primeiro emprestando sua conta bancária nos EUA para a transferência do dinheiro originado pela venda de relógios, e o segundo recomprando no exterior o Rolex vendido por Mauro Cid.

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Ontem, sexta-feira, 18 de agosto, na sequência do verdadeiro terremoto que a matéria de VEJA causou na mídia e nas redes sociais, Cezar Bittencourt deu uma segunda entrevista, desta feita à GloboNews, em que, titubeando muito, tentou – sem sucesso – corrigir o que declarara a VEJA. Em realidade só conseguiu demonstrar o quanto ele próprio e Cid estão perdidos. Na sequência, entrou em cena o também criminalista, Paulo Cunha Bueno, advogado de Jair Bolsonaro, dando uma entrevista onde tentou negar o inegável. Bueno deixou sem explicação vários pontos da história, demonstrando que ambos os defensores terão pela frente uma pedreira para justificar as condutas de seus clientes.

Entre as muitas contradições dos dois advogados, ficaram pendentes de esclarecimento questões como (a) por que foram escondidos aos EUA vender o Rolex; (b) por que não declararam a entrada no Brasil do dinheiro da venda do relógio; (c) quem mandou e por que Frederic Wassef foi aos EUA recomprar o relógio; (c) por que utilizaram a conta do general Lourena Cid para ocultar o dinheiro, e muitas outras…

Para piorar de vez, Cezar Bittencourt tentou insinuar que Mauro Cid deseja, numa nova versão de depoimento, poupar seu pai e Bolsonaro, assumindo sozinho a culpa, como se isso fosse possível. Faltaria apenas combinar com os delegados da PF, o Ministério Público e com o Ministro Alexandre de Moraes

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Bom lembrar que o general Lourena Cid, que não é nenhum inimputável, emprestou sua conta bancária, com plena consciência das consequências de seus atos, isso sem falar que teve sua imagem flagrada em fotos que ele tirou, de bens por ele próprio oferecidos à venda nos EUA. Em suma, o general não somente sabia como participava de atos de suporte para o esquema de comercialização de presentes oficiais; assim como Bolsonaro já admitiu que mandou Mauro Cid “resolver”, em outras palavras, vender e monetizar os objetos de alto valor, que em regra não lhe pertenciam…

Os delitos cometidos por Bolsonaro e seus asseclas teriam sido, à princípio, peculato e lavagem de dinheiro. A participação de sombrio Frederick Wassef (mesmo advogado que homiziou o miliciano Fabrício Queiroz) na recompra do Rolex, deu o tom “bagaceira” ao enredo, marca registrada de tudo que Bolsonaro faz.

Versões combinadas ou confissões incompletas teriam serventia apenas para alimentar os já convertidos da bolha bolsonarista, que terão mais um argumento esfarrapado para seguirem nas redes sociais com seus bate-bocas sem fim, na obstinada e inglória defesa do seu “mito”.

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Por derradeiro, a delinquência em questão, em que pese a pouca monta, teve morfologia de crime institucionalizado, pois tudo foi feito na surdina, aproveitando-se de viagens e malotes oficiais, do avião presidencial e de ajudante de ordem e de general expatriado, ambos com salários custeadas pelo contribuinte. Bolsonaro logrou êxito, enfim, de inaugurar o crime institucionalizado merrequeiro.

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