O Julgamento de Viviane Amsalem

O estupendo testamento da atriz/diretora Ronit Elkabetz

Viviane, quieta, ouve seu advogado apresentar seu caso aos três rabinos que conduzem o julgamento: há três anos ela deixou a casa do marido, e desde então vem pedindo o divórcio. Mas Elisha (Simon Abkarian), o marido, se recusa a concedê-lo, e ela agora solicita a intervenção da corte em seu favor. Os juízes conversam entre si, deliberam, manifestam claramente seu desconforto, e anunciam: só o marido tem autoridade para dissolver o casamento. O que eles determinam, portanto, é que Viviane volte para Elisha por pelo menos seis meses; passado esse período, o assunto será discutido em uma nova audiência. E assim, pelos próximos quatro anos, em uma infinidade de audiências que têm lugar sempre numa mesma sala impessoal, Elisha, o advogado (Menashe Noy), o rabino-chefe (Eli Gornstein) e testemunhas ocasionais se confrontarão e terão de enfrentar a obstinação de Viviane – Ronit Elkabetz, estupenda como atriz e também como corroteirista e codiretora ao lado do irmão, Shlomi Elkabetz.

Ronit, que era uma mulher linda e uma personalidade respeitadíssima e muito querida em Israel, morreu em abril passado, aos 51 anos, de câncer. É uma perda incalculável, como se pode conferir por O Julgamento: não está muito claro por que Viviane adquiriu tal aversão ao marido depois de um casamento longo e de vários filhos – mas, à medida que o filme vai descrevendo sua espiral narrativa, percebe-se que, além de qualquer razão objetiva, é a questão de princípio que importa a Viviane, e a incomoda e a alimenta. Mais até do que o divórcio, ela busca é o direito de divorciar-se. É um filme sóbrio, engenhoso, mas que ataca com uma fúria fria o patriarcalismo religioso que invade as relações civis em Israel. Fica ali, par a par, com o também israelense Kadosh, de Amos Gitai, e com o iraniano A Separação, de Asghar Farhadi.

Trailer

O JULGAMENTO DE VIVIANE AMSALEM
(Gett)
Israel/França/Alemanha, 2014
Direção: Ronit e Shlomi Elkabetz
Com Ronit Elkabetz, Simon Abkarian, Menashe Noy, Eli Gornstein