Três séries adolescentes inglesas que vão muito bem para gente grande
Você acha que série para adolescente tem de ser sempre aquela coisa superficial e maldosa de Pretty Little Liars e Gossip Girl, ou superficial e desmiolada como Once Upon a Time e The Vampire Diaries? Nananinanão. Não mesmo.
Neste momento, por exemplo, estou apaixonada por uma série que descobri no NOW: mal posso esperar o fim da noite para assistir a mais um episódio de My Mad Fat Diary, sobre a tumultuada reentrada de Rachel Earl no mundo real, depois de um período de internação psiquiátrica. Rachel – ou Rae, como gosta de ser chamada – tem 16 anos, muitos quilos a mais do que desejaria e menos amigos do que gostaria. Não lembra do pai, que deu no pé quando ela era bem pequena. E, claro: se dá mal com a mãe (Claire Rushbrook); se acha feia; tem certeza que todo mundo a acha esquisita. Alguns meses antes, em um dia de desespero particularmente intenso, Rae cortou os pulsos – daí a internação. Agora, o psiquiatra que a atende (Ian Hart, maravilhoso no papel) acredita que está na hora de ela retomar a vida.
Rae está apavorada com a ideia. Mas por acaso ela reencontra sua melhor amiga de infância, a miss perfeição Chloe (Jodie Comer), e toma coragem para ir ao pub com a turma dela. Surpresa: não que é Rae seja um sucesso de cara – mas, pouco a pouco, Chop (Jordan Murphy), Izzy (Ciara Baxendale), Archie (Dan Cohen) e Finn (Nico Mirallegro) vão se acostumando com ela, e então começando a gostar dela e, inacreditável (é o que Rae acha), em algum momento começam a considerá-la parte deles. O que Rae não percebe é quanto ela é inteligente, viva, cheia de humor, meiga e encantadora. Aliás, a série é escrita de forma a que também o espectador demore um pouquinho a apreciá-la. Mas, quando a paixão vem, ela é fulminante: estou na segunda temporada (são três, todas com seis episódios ou menos) e já entrei naquele modo desespero – o que é que vai ser de mim quando Rae tiver saído da minha vida?
O mérito pelo que My Mad Fat Diary tem de bom (e é muita coisa, da franqueza com que trata dos problemas de Rae ao senso de humor delicioso) tem de ser repartido. Metade vai para os roteiristas e diretores, metade para o elenco. Em especial, para a excelente Sharon Rooney, que interpreta Rae com inesgotáveis conhecimento de causa, empatia e riqueza de personalidade. Rae é perfeita do jeito que é, e eu só espero que ela não seja a última a se dar conta disso.
The Inbetweeners, outra série inglesa com que eu me diverti muito (essa está no Netflix), segue esse mesmo mote da convivência em turma. É mais sem compromisso e engraçadinha do que My Mad Fat Diary, mas vale a pena também. O peixe fora d’água aqui é Will McKenzie (Simon Bird), que teve de sair de sua escola particular chique depois do divórcio dos pais e ir enfrentar a sorte numa escola pública, onde todos o acham um idiota. Will é mesmo meio sem-noção, mas é muito boa gente. E, de tanto insistir, acaba se juntando a uma turma que não é lá o auge da popularidade, mas também não é o último degrau da escala social escolar a que ele parecia predestinado. Will e os amigos interpretados por Simon Cooper, James Buckley e Blake Harrison têm um repertório fixo de angústias: como serem servidos no pub (eles são menores de idade); como conseguir que os convidem para festas; como ganhar uma garota; como fazer para esquecer que os pais existem. A cada episódio das três temporadas, as respostas a esses problemas variam, mas também nunca solucionam nada, claro. Na verdade, acabam virando um inventário das humilhações infinitas (e divertidíssimas, a posteriori) da adolescência. Cuidado: há também um longa-metragem de The Inbetweeners no Netflix, mas ele deve ser visto como encerramento das três temporadas.
A mais sui generis desse trio de séries é Misfits (“desajustados”), que também está no Netflix. Cinco delinquentes juvenis estão cumprindo uma pena de serviço comunitário quando são atingidos por uma tempestade e desenvolvem poderes estranhos: um faz o tempo voltar, outro às vezes fica invisível, uma garota lê pensamentos, a outra desperta uma fúria libidinosa em quer que a toque – e o quinto garoto, o engraçadinho da turma, não consegue de jeito nenhum descobrir qual seu superpoder (além do de chatear o espectador; fiquei feliz quando o personagem saiu de cena e foi trocado por um outro engraçadinho bem mais simpático). Misfits é uma combinação nem sempre harmoniosa de realismo e fantasia, mas vai fundo nas caracterizações – para quem só assiste a séries americanas, vai ser um choque o jeito desencanado com que os ingleses tratam de sexo, álcool e drogas nessa faixa etária. Aos poucos, porém, ela vai acertando o passo. E dois dos atores valem tudo: Iwan Rheon, que é também o formidável Ramsay Bolton de Game of Thrones, e Lauren Socha, que faz a leitora de mentes. Repare como eles vão ganhando terreno sobre o restante do elenco: está na cara que o plano era que outros atores tivessem mais peso, mas Iwan e Lauren não demoram a deixar todo mundo comendo poeira.