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Hoje é um bom dia para ver… Os Irmãos Grimm

Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2017, 16h19 - Publicado em 31 Maio 2016, 18h31

No belo e divertido Irmãos Grimm, a ficção é um embuste sem o qual ninguém pode viver

Se a carreira de Terry Gilliam fosse um gráfico, ele seria ininteligível, com altos e baixos em sucessão esquizofrênica. Americano de Minnesota que se mudou para a Inglaterra nos anos 60, Gilliam foi trabalhador como animador na BBC, onde se enturmou com o pessoal do Monty Python. Daquelas sequências de animação do Flying Circus, cheias de recortes e colagens, Gilliam passou à co-direção, com o python Terry Jones, de Monty Python em Busca do Cálice Sagrado e O Sentido da Vida – e, em voo solo, à direção de Jabberwocky, Bandidos do Tempo e seu grande estouro, Brazil – O Filme, em 1985. No que o trabalho de Gilliam foi avançando com o dispersivo O Barão de Münchhausen, o sentimental O Pescador de Ilusões e o lampejo de 12 Macacos, suas esquisitices, excentricidades e peculiaridades foram mais e mais perdendo sintonia com o espírito do tempo. Quando completou Os Irmãos Grimm, em 2005, ele estava havia sete anos sem lançar um filme e mal e mal se recuperara do trauma de deixar pelo chão vários projetos seguidos. A maré de azar afetou a recepção de Os Irmãos Grimm – que está disponível no Netflix –, o que é uma pena: a história é uma graça, Matt Damon e Heath Ledger estão ótimos e o saldo final é delicioso.

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Leia a seguir a resenha que publiquei quando Os Irmãos Grimm foi lançado nos cinemas:


Invento, logo existo

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Vítimas na infância de um embusteiro, que lhes tirou seu único bem – uma vaca – em troca de falsos feijões mágicos, os irmãos Will e Jake Grimm ao menos aprendem uma lição: a de que se pode ganhar a vida explorando a credulidade e o desejo de fantasia alheios. Assim é que, na Alemanha de 1811, os jovens Grimm viajam de aldeia em aldeia forjando fenômenos sobrenaturais e então livrando os camponeses deles, mediante bom pagamento. Will (Matt Damon) o faz no conforto do seu pragmatismo e cinismo. Jake (Heath Ledger), porém, sente-se roubado de algo maior, e por isso vive perdido dentro da própria cabeça, tentando dar sentido à sua farsa. Jake mistura as lendas de que se aproveita às suas próprias aventuras, e vai anotando o resultado num caderno. Ele está, é claro, construindo as narrativas que tornariam os verdadeiros Grimm (ao que se sabe, sujeitos honestos) famosos – como Chapeuzinho Vermelho e Cinderela. E, com o belo, divertido e complicado Os Irmãos Grimm, o diretor Terry Gilliam constrói um argumento: não importa o que leva um homem a criar uma narrativa, se o oportunismo, a necessidade vital de fazê-lo ou uma combinação dos dois, como no caso de Jake (ou de qualquer cineasta). O que importa é o impulso humano de criar, e de compartilhar a criação.

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Não há nada de casual nessa escolha de roteiro. Cinco anos atrás, Gilliam – ex-integrante do grupo Monty Python – sofreu uma das mais espetaculares derrocadas que podem acometer um cineasta. Seu ambicioso Dom Quixote, protagonizado por Johnny Depp, foi varrido do mapa por intempéries naturais e financeiras uma semana depois de iniciadas as filmagens. Desde então, outros quatro projetos do diretor de Brazil, O Pescador de Ilusões e Doze Macacos haviam soçobrado. Gilliam achou que nunca mais conseguiria uma oportunidade de tirar uma história de sua cabeça e transmiti-la. Daí a empatia e o calor que ele dedica a Jake Grimm – aliás, defendido com brilhantismo pelo australiano Heath Ledger. Quando um feitiço verdadeiro recai sobre as jovens de um vilarejo, só Jake, que conhece as engrenagens do mundo ficcional, poderá salvá-las. Para apreciar Irmãos Grimm a contento, é preciso sentir-se confortável com o estilo barroco e carregado de Gilliam. Vale a pena tentar, porém. Esse não é um filme sem defeitos – mas, como em toda ficção realmente viva, é um filme que só é mais rico por não ser perfeito.

Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA em 05/10/2005
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2005

OS IRMÃOS GRIMM
(The Brothers Grimm)
Estados Unidos, 2005

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