Deadpool andava tão feliz, mas vai de novo bater no fundo do poço. Em uma depressão profunda, durante a qual descobre que seu poder de cura torna inúteis até as tentativas mais radicais de suicídio (radicais mesmo), ele se agarra a uma tábua de salvação: a ideia de resgatar Russell/Punho de Fogo (Julian Dennison), um garoto neozelandês gorducho de 14 anos que, entre o superávit de hormônios da adolescência e os maus-tratos no orfanato para mutantes enjeitados, perdeu as estribeiras. Russell nem precisaria de inimigos, porque já se atrapalha bem sozinho. Mas, por algum motivo, virou alvo da caçada de Cable (Josh Brolin), um soldado meca-eletro-humano vindo do futuro que é uma máquina de guerra sem nenhum senso de humor. Deadpool fica tão encantado com o projeto de proteger o garoto da ira de Cable (e acertar umas tantas contas mais) que até forma uma força-tarefa. Entrevista vários candidatos com Weasel (T.J. Miller), mas sabe-se lá por que eles se dão ao trabalho, já que aceitam qualquer um que se ofereça mesmo. Por exemplo, Peter (Rob Delaney), um funcionário de escritório muito boa gente mas sem nenhum poder, especial ou não, e um sujeito invisível que pode ou não existir de fato, porque ninguém o viu. A Força-X enfrenta alguns, digamos, obstáculos, de forma que seu único integrante verdadeiramente ativo é Domino (a ótima e incrível Zazie Beetz), que tem muita sorte – e se sorte conta ou não como super-poder é um assunto que ela e Deadpool discutem longamente. Ou seja, Deadpool tem que dar a mão à palmatória e aceitar a ajuda dos X-Men. Daqueles que o orçamento de Deadpool 2 pode pagar, bem entendido, como Colosso e Míssil Adolescente Megassônico: segundo Deadpool, o estúdio continua regulando a participação dos X-Men mais bacanas.
Se o primeiro Deadpool já era um arraso, Deadpool 2 é duas vezes isso. Não há nem um segundo que fique de bobeira nos 119 minutos de filme: a ação é alucinada, a violência é sem controle (quem dirige é David Leitch, de John Wick e Atômica), as piadas são sensacionais, a baixaria atinge auges (ou profundidades) impressionantes, a trilha é bárbara (Deadpool adora uma música brego-romântica e, já pedindo desculpas aos fãs de My Heart Will Go On, pela primeira vez vi sentido em Céline Dion). O elenco é o que há de bom. Prefiro mil vezes Josh Brolin fazendo Cable com a cara dele mesmo – e ele cada vez mais parece esculpido a machado – do que como o Thanos de Vingadores : Guerra Infinita, debaixo de toda aquela computação gráfica. De Zazie Beetz já falei, e Julian Dennison, que eu conhecia de Fuga para a Liberdade (no original, Hunt for the Wilderpeople, o filme que Taika Waititi dirigiu logo antes de Thor: Ragnarok), é maravilhoso.
Isso sem falar de Ryan Reynolds, claro, que tanto batalhou para que Deadpool afinal chegasse ao cinema exatamente do jeito podreira e aloprado com que nasceu nos quadrinhos da Marvel. Reynolds é o coração, a alma e a cabeça do filme. Aquilo que o Monty Python fez pela civilização ocidental (ou seja, demolir todos os seus pilares), ele faz pelo universo dos super-heróis. Reynolds sabe tão bem como lidar com o personagem que, apesar do sucesso estrondoso do primeiro Deadpool (58 milhões de dólares de orçamento, padrão “mesa das crianças”, e 783 milhões de renda), quase não foi preciso aumentar o investimento para esta sequência. Deadpool não é questão de dinheiro: é questão de garra.
P.S.: nem seria preciso avisar, mas é mandatório esperar as cenas pós-créditos.
Trailer
Veja aqui a entrevista com a atriz Morena Baccarin
DEADPOOL 2 Estados Unidos, 2018 Direção: David Leitch Com Ryan Reynolds, Josh Brolin, Morena Baccarin, Zazie Beetz, Julian Dennison, T.J. Miller, Brianna Hildebrand, Eddie Marsan, Terry Crews, Bill Skarsgard, Rob Delaney, Alan Tudyk e algumas pontas-relâmpago que não vou entregar Distribuição: Fox |