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Coronavírus expõe desigualdade social e aumenta riscos ao meio ambiente

Percepção da sociedade será diferente de acordo com o poder de compra para estocar alimentos e contratar serviços

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 mar 2020, 19h29 - Publicado em 17 mar 2020, 16h28

Em tempos de quarentena e autoisolamento para conter o avanço da pandemia causada pelo coronavírus, imagens de supermercados lotados e carrinhos abastecidos com pacotes de papel higiênico e alimentos não perecíveis viralizaram no mundo. Gôndolas vazias e o desaparecimento de álcool etílico e em gel das prateleiras ajudaram a alimentar o clima de pânico em diferentes cidades com casos confirmados da Covid-19, como em São Paulo e no Rio de Janeiro. 

Para o agrônomo e gerente de certificação agrícola do Imaflora, Luis Fernando Guedes Pinto, a crise do coronavírus trouxe à tona a agenda da desigualdade. “Quem tem mais capital, um porta-malas maior, uma casa para estocar mais coisas, consumirá mais. Quem só conseguir carregar uma sacola no ônibus e não tiver onde guardar, enfrentará uma situação mais precária”, ponderou. O ideal é consumir o mínimo necessário para que haja estoque suficiente para todos. “Se o sistema de saúde tem que funcionar para todo mundo, o mesmo pensamento tem que prevalecer na hora de comprar comida ou papel higiênico. É uma questão de planejamento e solidariedade”, afirmou. O agrônomo também criticou a falta de políticas públicas para garantir o abastecimento de alimentos básicos.  

Para ele, os privilégios das classes mais altas automaticamente protegerão as pessoas com maior poder de compra. “Conseguir circular dentro de um carro, assistir à televisão em casa, comprar no cartão de crédito, pedir um delivery, entre diversos outros privilégios, diminuem a exposição dos mais ricos ao vírus. Quem não tem tudo isso terá que sair para a rua normalmente”, declarou. 

Segundo Pinto, o comportamento de parte das pessoas nos comércios demonstra o instinto de sobrevivência. “No curto prazo, o instinto tem um impacto negativo no meio ambiente e na própria sobrevivência a longo prazo, pois poderão faltar produtos no futuro. O impacto coletivo é mais amplo”, afirmou. Além disso, o pensamento focado apenas na sobrevivência ignora os outros aspectos sobre um produto, como a origem e a forma como foi gerado. “A carne do desmatamento, por exemplo, voltará a ser consumida normalmente. O consumidor deixará de pensar no agrotóxico. A prioridade será apenas ter para sobreviver”, disse. 

Em comparação a outras crises do passado, como a do apagão, em 2001, e a crise hídrica, de 2014, agora há a mesma expectativa sobre a mudança no padrão de comportamento. “Após as situações anteriores, a tecnologia evoluiu, temos dispositivos e aparelhos mais econômicos, mas os hábitos dos cidadãos não mudaram. O coronavírus é mais uma oportunidade para consumir menos e perceber que precisamos de poucas coisas para sermos felizes e sobrevivermos”, explicou. 

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Outra tendência que deverá ser confirmada é a redução de emissões de gases de efeito estufa, pelo cancelamento em massa de voos nacionais e internacionais, paralisação de indústrias e quarentenas. “Contudo, a redução não será porque mudamos a agricultura ou paramos de desmatar. Às vezes as crises econômicas parecem ter efeitos ambientais positivos, mas, na verdade, deixamos de consumir por falta de oportunidade, não porque mudamos a qualidade ou o padrão de consumo”, disse. 

Para o agrônomo, a escassez pode ser um momento para entender que os recursos são finitos. “A comida, o livro, o carro, a energia, todas as coisas vêm de fontes escassas. Podemos investir em uma reeducação e rever os padrões de necessidade para comprarmos efetivamente somente aquilo que precisamos”, afirmou.

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