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Felipe Moura Brasil Por Blog Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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O debate público virou um amontoado de pré-julgamentos

Regra geral: A recusa ou a incapacidade de enxergar hipóteses, para além daquela que a emoção aponta, resultam, com frequência, em julgamento precipitado. A repetição pública de julgamentos precipitados contra qualquer pessoa, sem a observação das hipóteses que a eximiriam de culpa em cada caso, lança sobre ela um grau de culpabilidade proporcional à credibilidade […]

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 00h36 - Publicado em 27 ago 2015, 22h44
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  • Regra geral:
    A recusa ou a incapacidade de enxergar hipóteses, para além daquela que a emoção aponta, resultam, com frequência, em julgamento precipitado.

    A repetição pública de julgamentos precipitados contra qualquer pessoa, sem a observação das hipóteses que a eximiriam de culpa em cada caso, lança sobre ela um grau de culpabilidade proporcional à credibilidade e à influência de seus julgadores sobre a sociedade.

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    O acúmulo mental de supostos motivos para a execreção pública da pessoa pré-julgada leva o cidadão comum a rejeitar qualquer tentativa alheia de persuadi-lo a examinar os casos que o levaram a culpá-la de antemão.

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    Com a culpa já desvinculada de sua causa, pouco importa à massa histérica e aos julgadores que a criaram se a revelação dos fatos começa a demonstrar a inocência da pessoa pré-julgada.

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    Os fatos, com frequência, é que passam a ser questionados, com o lançamento sobre eles de um grau de desconfiança proporcional à dificuldade dos julgadores de admitir a própria precipitação.

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    Exemplos:
    Janot sabatinaA cobertura de casos de comoção nacional nos Estados Unidos como o do vigilante que matou Trayvon Martin e o do policial que matou Michael Brown esteve carregada desse tipo de comportamento, assim como está agora a da atuação do procurador-geral da República do Brasil, Rodrigo Janot, nas investigações do petrolão.

    As duas precipitações críticas mais recentes contra o PGR, para além daquelas que já comentei aqui em julho, foram relativas a uma frase sua na sabatina de mais de dez horas no Senado e a outra do doleiro Alberto Youssef na CPI da Petrobras.

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    1) Janot foi criticado por explicar que ele próprio e os demais investigadores se convenceram de que o delator Júlio Camargo “estava em estado de ameaça”, com “receio de sua própria vida”, quando omitiu em quatro depoimentos a acusação contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, revelada no quinto.

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    Daí se tirou que o PGR dava publicamente como verdade a acusação de um delator e nem sequer teria tomado providências a respeito, quando, na verdade, Janot não indicou que houve a ameaça, mas, sim, que Camargo se sentia ameaçado, sendo que ele próprio admitira na delação não ter recebido diretamente ameaça alguma.

    2) O Ministério Público comandado por Janot também foi acusado de permitir vazamentos, porque Youssef antecipou, na acareação da CPI, que um novo delator esclarecerá o repasse de R$ 2 milhões à campanha de Dilma Rousseff de 2010.

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    Comentamos – eu e meus leitores – no Twittter, ontem, que havia várias outras hipóteses que não comprometiam necessariamente o MP, como os advogados dos delatores terem trocado informações a respeito e ambos terem dividido a mesma cela. O próprio Janot aventou essa possibilidade na sabatina.

    Hoje, o site de VEJA revelou que o novo delator é Fernando Baiano, com quem Youssef dividiu, de fato, uma cela em Curitiba. “Eles estavam na mesma carceragem da Polícia Federal, eles podem ter conversado sobre isso. Acho que foi um ato de desabafo de Youssef na CPI para falar que a culpa não é dele”, disse o advogado do doleiro, Antonio Figueiredo Basto.

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    Se Basto diz a verdade, ou se culpa o cliente para encobrir o papo de advogados, o fato é que ambas as hipóteses foram ignoradas pelos críticos de Janot.

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    Acordão
    Este blog não recrimina a pressão política sobre o PGR, nem nega a hipótese de que ele esteja mancomunado com Dilma Rousseff, mas não endossa qualquer condenação moral baseada na repetição pública de julgamentos precipitados, especialmente se acompanhada da ambição de vangloriar-se da suposta profecia caso o pior venha a se confirmar mais tarde (ou da suposta pressão caso o melhor se confirme).

    Janot, aliás, deu uma ótima resposta na sabatina sobre o suposto “acordão” para blindar a mulher sapiens:

    “Tenho 20 colegas e um grupo de delegados muito preparados e profissionais da Polícia Federal. Mesmo que eu tivesse que fazer um acordo desses teria que combinar com os russos. É uma ilação impossível.”

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    Pode ser. Só espero que o PGR acelere as investigações e dissipe as dúvidas a seu respeito antes que o debate público se torne apenas uma grande gritaria.

    * Veja também:
    As supostas culpas de Janot, Cunha e Dilma Rousseff
    Vídeos: Janot responde a Aécio e Aloysio Nunes sobre investigar Dilma Rousseff e pedaladas fiscais

    Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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