Durante a sessão tragicômica de votação da fraude fiscal da presidente Dilma Rousseff em dezembro, o deputado Mendonça Filho ironizou: “Aquilo não é um Ministério da Fazenda, aquilo é um salão de beleza. Lá só se faz maquiagem.” Pois bem. O jornal O Globo é o salão de beleza do secretário de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame: lá só se faz maquiagem para que ele saia bem na foto, em meio à insegurança geral.
Veja a manchete “impressionada” da repórter Vera Araújo nesta quarta-feira (4):
Agora compare com as manchetes do jornal O Dia em 31 de janeiro e da repercussão detalhada em VEJA.com em 1º de fevereiro:
Deu para entender o truque duplo do Globo?
O jornal ignora não apenas seis, mas dez anos de queda na apreensão de armas no Rio para se limitar aos meses de janeiro de 2014 e 2015, noticiando um impressionante aumento de 100% no índice de apreensão não de armas, mas apenas de fuzis.
Isto, sim, é fazer barba, cabelo e bigode do secretário. Sem contar que 11 dos ditos 41 fuzis foram apreendidos só DEPOIS de dias de tiroteios entre facções rivais no Morro de Juramento, que aterrorizaram os moradores e fizeram pelo menos uma vítima mulher de “bala perdida”.
Em 2004 – eis os fatos -, as forças policiais tiraram das ruas do estado 14.308 armas. Em 2012, as apreensões chegaram à metade: 7.367. Até melhorou um pouco em 2014, fechando com 8.667 armas, mas este é um número 39,4% menor do que o registrado uma década atrás, quando o mercado negro e as ofertas eram MENORES.
Nas próprias UPPs (aquelas “Unidades de Polícia Pacificadora” que os policiais chamam de Unidade de Propaganda Política ou Unidade de Perigo para o Policial), a quantidade de armas apreendidas caiu drasticamente, como se pode ver pelo infográfico de O Dia:
O papel do Globo fica ainda mais ridículo quando se nota que as reportagens do Dia e da VEJA.com vieram dias antes e poderiam ter sido consultadas pela repórter e pelo editor, na hipótese benevolente de que exista um. Pelo visto, o jornal insiste em comprovar a minha tese de que precisa blindar o secretário para quem concedeu o “Prêmio Faz Diferença” em 2010.
A diferença, de fato, está feita – e é um recorde:
Além da queda na apreensão de armas, os roubos a estabelecimentos comerciais, de cargas, a transeuntes e o total de assaltos alcançaram suas piores marcas de todos os tempos em 2014. Eles aumentaram 27% sob a gestão Beltrame, que assumiu o cargo em 2007 e tem, hoje, um orçamento anual três vezes MAIOR do que à época. Os homicídios, que caíram até 2012, voltaram a crescer pelo segundo ano consecutivo. Em 2006 eram 6.323 e chegaram a 4.081 seis anos depois. De lá pra cá, o gráfico mostra uma tendência de crescimento, afinal os assassinos à solta já se reacomodaram após a instalação das UPPs. O número subiu para 4.745 em 2013 e, em 2014, atingiu 4.939, o maior índice desde o ano de 2009.
Em qualquer empresa privada, o conjunto desses dados seria o bastante para justificar uma demissão. Talvez seja por isso mesmo que O Globo precisa caprichar na maquiagem.
* Veja também aqui no blog:
– Capa do Globo é exemplo de como imprensa blinda Beltrame
– A farsa da ‘pacificação’ no Rio de Janeiro
– Só Beltrame não tem culpa? É ruim, hein!
– Mãe de estudante assassinado: “Eu dou na cara do Beltrame se ele aparecer”
– Cuidado, você está na Barra! É tanto assalto na Av. das Américas que até ‘flagra’ virou moda. Onde está Beltrame?
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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