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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Até Gilberto Carvalho admite: não foi só a “elite branca” que xingou Dilma. “A coisa desceu.”

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 03h38 - Publicado em 19 jun 2014, 04h45

gilberto“Me permitam, pessoal, no Itaquerão não tinha só elite branca não. Não fui pro jogo, mas [es]tive no Itaquerão, ao lado, numa escola acompanhando as movimentações, fui e voltei de metrô. Não tinha só elite no metrô. Tinha muito moleque gritando palavrão dentro do metrô que não tinha nada a ver com elite branca. A coisa desceu. Isso que foi gotejando, de água mole em pedra dura, esse cacete diário de que inventamos a corrupção, de que nós aparelhamos o Estado brasileiro, de que somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou. Na elite, na classe média, e vai gotejando, vai descendo. Porque não demos o combate, não conseguimos fazer o contraponto.”

Essa foi, segundo a Folha, uma das declarações do ministro Gilberto Carvalho no encontro com ativistas e blogueiros de esquerda no Palácio do Planalto nesta quarta-feira. Será que ele leu meu post: O curioso caso da “elite branca” pobre, negra e “moreninha” contra Dilma “Rodrigues” e o governo do PT? Ora, nem precisava… Qualquer petista sabe que esse papo de “elite branca” é pura vigarice, que não seria mesmo levada a sério em reuniões estratégicas do partido. Então vamos em frente.

Ninguém diz que o PT inventou a corrupção – o que é pura distorção petista para se fazer de vítima de uma acusação absurda -, mas que profissionalizou e ampliou as velhas práticas de corrupção. O resto é a mais pura verdade: o PT aparelhou (no pior sentido do termo) o Estado brasileiro e os petistas são, ao menos em boa parte, um bando de “aventureiros” (lê-se: oportunistas) que chegaram até lá para se locupletar, isto é, enriquecer como o Lulinha. (Na verdade, para se perpetuar no poder também, fazendo a transição para o socialismo, como seus próprios relatórios reconhecem.) Essa história, sim, “pegou”. E, se a militância não conseguiu “fazer o contraponto”, é porque até para ela é difícil enganar todo mundo o tempo todo.

Mas que fique claro: a história, quer dizer, a verdade não “goteja” dos mais ricos para os mais pobres, como alega o ministro, e sim dos mais bem informados – que não necessariamente são ricos – para os mais mal informados (ou alienados) – que não necessariamente são pobres. Não é uma questão de classe, mas de nível de informação e consciência, ainda que as pessoas de mais informação possam ser predominantemente as de renda mais alta justamente porque têm os meios de obter educação e informação de qualidade, em vez de ficar expostas apenas à propaganda do governo. Os petistas mais espertos trocam conscientemente uma coisa (o nível de informação etc.) pela outra (a classe); e os mais burros confundem as duas mesmo, porque repetir os chavões da luta de classes marxista constitui toda a sua “educação”. Eu concederia a Gilberto Carvalho o benefício da esperteza, sabendo que esta subentende o seu cinismo.

Como também pode haver gente bem informada entre os pobres e ricos que recebem pequenas e grandes esmolas do Estado ou se beneficiam de boquinhas estatais, não posso dizer que todos os eleitores do PT são mal informados ou alienados: há os de interesses mesquinhos e materiais, além dos histéricos reinantes. Mas que, depois de mil e um escândalos, é mais fácil o Robben cortar para a direita do que encontrar um eleitor petista de níveis moral, de informação e consciência ao mesmo tempo elevados, não resta dúvida.

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LulaAlberto Cantalice, Marcelo Neri e Élio Gaspari, investindo no ódio de classe com a criação de inimigos imaginários, querem desesperadamente fazer parecer que as críticas ao governo do PT são coisa de ricos odientos incomodados com a presença de “gente diferenciada” nos aeroportos ou matriculada nas universidades públicas graças ao sistema de cotas, quando a verdade, parcialmente confessada por Carvalho, é que ricos e pobres estão insatisfeitos com a roubalheira petista e com o estado dos aeroportos, das universidades, das escolas, dos hospitais, da mobilidade urbana e da segurança pública, com quase 60 mil homicídios por ano.

A confissão do ministro?
“Do ponto de vista de governabilidade institucional, somos uma estrondosa minoria. E se você acrescenta que nós não fizemos o debate na mídia pra valer, nós passamos esse tempo todo com uma pancadaria diária que deu resultado. Essa pancadaria diária é o que resulta no palavrão para a Dilma lá no Itaquerão”, disse Carvalho, colocando a culpa na imprensa, como de praxe entre seus partidários. Ele disse ainda que essa eleição será a mais difícil de todas para o PT porque a presidente “enfrenta o resultado desse longo processo, e a correlação de forças vai ficando mais complicada pra gente nesse sentido.” 

Mas se as coisas estão complicadas para os petistas, por que não dar um jeitinho… petista, não é mesmo?

No encontro organizado como forma de defender as novas regras para montagem de “conselhos populares”, o grande momento de Gilberto Carvalho – o responsável no governo pela interlocução com os movimentos sociais – foi a frase: “A capacidade de articulação com a sociedade é o único caminho capaz de compensar de alguma forma essa correlação de forças desfavorável do ponto de vista institucional.” (Grifo meu.)

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Como “sociedade”, em petistês, costuma significar “movimentos sociais” e companhia, isto me pareceu uma confissão. A confissão de que o decreto golpista em favor da participação dos movimentos controlados pelo próprio PT na gestão pública é uma forma de compensar a fragilidade petista diante da descoberta geral de que o partido não presta.

Em suma: eles se fazem de vítima das próprias vigarices e, para compensar o fato de serem descobertos, fazem novas vigarices, cada vez mais profundas, não sem orientar a militância sobre como defendê-las perante a plateia bocó.

Quando a informação “desce”, o despudor petista desce mais ainda. É preciso estar sempre atento a essa gente.

Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil

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