Em um planeta desértico, arrasado pelo tempo e abandonado pela vida humana civilizada, Cate Blanchett veste uma peruca vermelha imóvel, que mais se assemelha a um capacete. Carrancuda, ela leva consigo armas peculiares que derrubam qualquer um que entrar em seu caminho. Ao seu lado, um pequeno robô invencível dublado por Jack Black faz as piadas mais insuportavelmente infantis que uma mente humana é capaz de elaborar. O filme é Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo, subproduto de — caso a descrição e título não tenham deixado claro — um videogame “engraçadinho” de 2009. Já o único mistério cativante em tela é pensar por que a vencedora do Oscar se submeteu a tamanha falência criativa.
No enredo, ela vive a caçadora de recompensas Lilith, encarregada de resgatar a filha de um magnata que comanda a maior indústria tecnológica e bélica do universo. Para tal, precisa voltar para seu planeta natal, o caótico Pandora, onde passa a ser perseguida pelo estridente robô. No caminho, descobre que a garota aparentemente sequestrada na verdade foge de seu criador, que a confeccionou em laboratório para abrir o baú mais impenetrável do universo. A descoberta a faz se voltar contra o cliente e entrar em uma aventura contra seu exército, além de monstruosidades alienígenas e os chamados “psicopatas”, brutamontes de pouco intelecto e muita violência.
A mistura de Guardiões da Galáxia com Mad Max chegou aos cinemas nesta quinta-feira, 8 de agosto, prometendo diversão descompromissada. Para Blanchett, a oportunidade era de protagonizar algo mais apropriado aos seus quatro jovens filhos, que vão dos 9 aos 22 anos de idade, mas também de levar sua carreira em direção inusitada, como explicou em entrevista à revista americana Empire. Infelizmente, as surpresas param por aí. Limitado a uma jornada de herói previsível e apressada, o filme se interessa mais em replicar o visual chapado e sem vida de videogames de tiro do que em criar personagens tão interessantes ou insanos quanto dizem ser.
A excentricidade para no robô de efeito cômico e na açucarada adolescente Tina (Ariana Greenblatt), cuja personalidade advém de estereótipos simplistas da impertinência juvenil. Para se nivelar ao resto do elenco, Blanchett realiza sua atuação mais engessada e confusa. Seu deslocamento é tanto que cada gesto seu desmascara a farsa. A personagem Lilith jamais existe — a ideia da atriz cansada e robótica em um estúdio de paredes verdes, sim.
Talvez o resultado fosse tolerável se entregue a um diretor mais calejado na artificialidade digital, feito Robert Rodriguez, de Sin City e Pequenos Espiões, ou a uma mente realmente perversa. Pelo prisma do cineasta Eli Roth, a loucura nunca passa de simulacro, feito fantasia barata de Halloween. Para o público, é melhor ficar com as referências que ele regurgita do que com a gororoba final. Para os envolvidos, melhor admitir a derrota e voltar à primeira fase.
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