O pitaco de um brasileiro por trás do filme ‘Na Ponta dos Dedos’ da Apple
Diretor grego Christos Nikou fala sobre inspirações para o longa com Jessie Buckley, Jeremy Allen White e Riz Ahmed
No filme de tom distópico Na Ponta dos Dedos, da Apple TV+, o diretor grego Christos Nikou imagina um mundo onde é possível descobrir sua alma gêmea a partir de um teste de laboratório feito com a unha da mão de duas pessoas. Mas e se um casal apaixonado não tiver tal compatibilidade? Ou seria possível alguém com compatibilidade com o parceiro se apaixonar por outro? Essas questões dominam, de forma muito sútil e longos silêncios, o filme estrelado por Jessie Buckley, Jeremy Allen White e Riz Ahmed. Abaixo, confira entrevista com o diretor sobre a origem da ideia — e como um amigo brasileiro lhe ajudou a pensar no teste retratado na produção.
Cientistas tentam decifrar o código do amor há muito tempo. Há alguma pesquisa que nesse sentido que influenciou de alguma forma o filme? Na verdade não, tentamos retratar as nossas próprias ideias e sentimentos sobre o amor. Pesquisei se existe alguma conexão direta entre as unhas e o coração, e encontrei um dado científico que diz que quando você tem problemas cardíacos, os primeiros sinais são pequenos pontinhos nas unhas. Curiosamente, um amigo do Brasil me contou de um mito sobre as manchas brancas nas unhas: na cidade dele, diziam que significa quantas vezes você vai se apaixonar na vida e eu amei essa história.
Como teve a ideia para o roteiro do filme? Eu sempre tentei entender o que é o “amor”, especialmente nos últimos anos da minha vida — e ainda estou tentando entender. Eu vi o fenômeno dos aplicativos, com pessoas usando seus dedos e unhas, arrastando para a direita ou esquerda, para encontrar a combinação perfeita, deixando um algoritmo lhes sugerir parceiros e isso me deixou inquieto. Estamos fazendo um comentário sobre como o amor não é algo que se precisa provar. Que o amor não é algo que depende da resposta da tecnologia, mas algo muito mais instintivo.
Por que desvendar o amor lhe interessa tanto? Porque não sei se consigo me apaixonar, não sei se consigo encontrar o amor verdadeiro. O amor mudou muito. A maneira como as pessoas usam a tecnologia para encontrar o amor mostra que mudou o jeito como vivenciamos ele na sociedade.
Já tentou usar os aplicativos de namoro? Nunca. Mas espero que as pessoas parem de usá-los. Espero que eles retornem ao jeito antigo em que apenas conhecemos pessoas, e nos surpreendemos porque não sabíamos tudo sobre elas desde o início.
O filme conta com três grandes atores. Mas Jeremy Allen anda no centro das atenções de Hollywood por causa da série O Urso. Como foi trabalhar com ele? Eu acho que, em primeiro lugar, Jeremy é um ser humano incrível e também um ator incrível. Ele é muito atencioso e inteligente. Ele tem um instinto que, desde a primeira tomada que fazemos, tudo fica perfeito. Eu o chamei de “ator de uma só tomada”, porque é só isso que ele precisa. Eu digo que ele é o “Gosling desta geração”.
O cineasta Yorgos Lanthimos, de A Favorita, está em alta em Hollywood e chamou a atenção para a produção grega dos últimos anos. Enxerga uma nova cena florescendo no cinema grego? Para ser sincero, não sei se essa nova onda grega existe, porque também não sei o que isso significa. Para mim, é mais sobre o Yorgos ter criado alguns filmes ótimos e muito estranhos. Mas há muito talento na Grécia, eu espero que mais diretores de lá façam filmes em inglês, pois são filmes com mais audiência. Trabalhei com o Yorgos em 2008, há 15 anos. É um diretor incrível.