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Por Raquel Carneiro
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Kleber Mendonça Filho planeja filme no Brasil dos anos 70 com Wagner Moura

Cineasta fala a VEJA sobre o documentário 'Retratos Fantasmas', recém-lançado no Festival de Cannes, e seu interesse em manter acesa a memória do país

Por Jennifer Queen, de Cannes
Atualizado em 23 Maio 2023, 13h40 - Publicado em 23 Maio 2023, 10h27

Aplaudido de pé por mais de cinco minutos no Festival de Cannes, o documentário Retratos Fantasmas, novo filme do diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho, pode ser visto como um grande álbum de família coletivo da sua cidade natal. Ou uma carta de amor ao Recife e ao cinema. Dividido em três partes, o filme apresenta o apartamento onde ele cresceu e foi cenário de muitos dos seus filmes, como o filme Som Ao Redor, enquanto eleva as salas de cinema, santuários do centro das cidades, ao posto de personagem principal. Figurinha carimbada de Cannes há mais de 20 anos, como crítico, júri e, claro, cineasta, Mendonça Filho saiu premiado do festival, em 2019, com o filme Bacurau, que ganhou o Prix du Júri. Ele conversou com a reportagem de VEJA sobre sua carreira, o documentário e os planos de fazer um filme ambientado em 1977, durante a ditadura militar, com Wagner Moura.

Como surgiu a ideia de fazer o documentário? O que houve de diferente de fazer esse filme e os outros? Creio que estou mais sensível aos aspectos históricos, depois de fazer um filme de arquivo. Todo filme é sobre histórias. Mas esse filme é uma história de forma mais imediata. Acho que o mais diferente foi o resultado. A forma de fazer este documentário foi totalmente diferente. Fui encontrando aos poucos imagens guardadas. Encontrei muitas das imagens mostradas no filme cinco anos depois de tê-las feito. Não pensava muito sobre elas, mas o tempo passou e foram ganhando um peso maior.

Por exemplo? Quando você vê uma bilheteira numa bilheteria, operando uma caixa registradora analógica que faz um determinado barulho e que sai um bilhetinho e que tem uma catraca na porta do cinema. Tudo isso ganhou um peso extra, 30 anos depois. Porque hoje com o celular você compra um ingresso para um filme que vai ver daqui a uma semana, às 14h30. Não existe mais essa ideia de bilheteria. A bilheteria agora tem outra tecnologia. Então, são pequenos detalhes que vão ganhando força com o tempo.

Reunir imagens de arquivo é um desafio no Brasil? O Brasil tem algumas imagens oficiais. Por exemplo, se estamos falando de ditadura, você já sabe quais imagens verá no documentário sobre a ditadura ou no Globo Repórter Especial. Essas imagens são repetidas o tempo todo, como se alguém tivesse decidido que essas imagens seriam oficiais. Mas ninguém decidiu, é uma questão de disponibilidade e preguiça. Por exemplo, a imagem do Evandro Teixeira, fotógrafo, do estudante correndo e caindo em um policial, descendo o cacetete. Essa imagem é muito conhecida e muito repetida como imagem da ditadura. Existem muitas outras imagens que poderão traduzir a ditadura. Se você souber procurá-las. A ideia do meu filme é criar uma nova galeria de imagens conhecidas para falar do Recife e do passado. Acho interessante poder oferecer outras imagens que são muito boas e honestas sobre o passado e que tem algo cinematográficos.

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Thierry Frémaux, diretor do Festival de Cannes, falou que seu filme é local, mas fala para o global. O que você acha nessa história, nessa galeria de imagens sobre cinema e Recife que apela para todo mundo? Os centros de cidades são todos muito semelhantes, aí entra essas imagens de algo que aconteceu. Preferi não detalhar o que aconteceu em um dos incidentes mencionados no filme, mas algo muito grave tinha acontecido. As pessoas estão chocadas, e a última imagem é uma mancha de sangue. Toda cidade no mundo tem algum incidente trágico no centro. A lógica de centro se repete em muitos lugares. Quando ele falou aquilo pensei na capacidade do cinema de instalar a geografia de cidades do mundo na sua cabeça, e depois você chegar na geografia é muito interessante. Isso acontece muito quando você vai aos Estados Unidos, né?

Tem alguma memória específica nesse sentido? Lembro a primeira vez que fui ao Estado Unidos, vi o carro da polícia passando fora do aeroporto, e pensei: “uau, eu estou nos Estados Unidos, estou num filme americano”. Mas não estava em um filme americano, era só um aeroporto do país. Quem conhece sua cidade, pode fazer um relato honesto sobre a cidade. Ele é sobre Recife, mas poderia ter sido feito em São Paulo. São Paulo tem uma história incrível, de cidade, de rua, de como a rua está sendo usada, nessa crise humanitária. São Paulo é um grande cenário para fazer alguma coisa. A sala de cinema é um fenômeno cultural mundial.

Como está vendo o seu momento do cinema para o Brasil? Acho que voltamos à normalidade. E o que é normal? O Brasil é um país que apoia a cultura e que investe em cultura, que acredito ser uma política inteligente. Todo economista sabe que investimento em cultura é devolvido financeiramente para a sociedade. Quando um público brasileiro vê ou ouve uma música, ouve qualquer expressão que o representa, o impacto disso é muito forte. Chamo isso de entusiasmo de se relacionar com algo que vem da sua própria cultura.

Kleber, quais os próximos planos? Tenho um roteiro de Agentes Secretos, que quero fazer com Wagner Moura. A trama se passa em 1977, mas não é um filme da ditadura: é sobre a lógica do Brasil. É um filme de história que se passa há quase 50 anos. Tinha nove anos na época, o filme vem de lembranças da infância. Retratos Fantasmas me ajudou a destravar esse filme. Sabe aquele momento que você está meio travado com o roteiro? Esses dois filmes têm uma ligação muito forte, pela imersão no passado. Porque você pesquisou muito, e acessando a biblioteca nacional, que inclusive está no filme, eu vendo jornais antigos. E é muito interessante pesquisar o tom do país. O que eu não quero é fazer uma versão adocicada do país, porque é uma tendência, quando o país é visitado, tende a ser requalificado. Nas especificações do presente. Esse filme acho que vai ser um tanto áspero nesse sentido.

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