Um grupo de 68 personalidades francesas — formado por pensadoras feministas e figuras do meio cultural — assinou uma carta aberta em apoio à atriz Amber Heard, que acusou o astro Johnny Depp de violência doméstica. O ex-casal enfrentou uma batalha judicial midiática no ano passado — com veredito a favor de Depp. A carta, que marca um ano da derrota da atriz nos tribunais, em junho passado, pode ser vista como uma resposta das francesas à maneira como o ator foi recebido no Festival de Cannes: enquanto enfrenta as consequências do julgamento para sua imagem, Depp tenta retomar o estrelato por meio do cinema europeu. Ele protagoniza o longa francês Jeanne Du Barry, que foi exibido na sessão de abertura de Cannes — marcando seu retorno triunfal ao tapete vermelho.
A carta não questiona a decisão dos tribunais, mas condena o circo que se formou ao redor do caso, e manifesta preocupação com sua repercussão, uma vez que Heard vem sendo continuamente difamada e perseguida nas redes sociais. Destaca, ainda, como a situação da atriz pode refletir de modo negativo para outras mulheres e minorias da sociedade. Trata-se de uma extensão da iniciativa original, “Uma Carta Aberta em Apoio a Amber Heard”, lançada em novembro de 2022 por grupos que lutam pela Justiça de gênero nos Estados Unidos, como Women’s March Action, Refuge e Esperanza United. “Grande parte desse assédio foi alimentada por desinformação, misoginia, bifobia e um ambiente de mídia social monetizado, onde as alegações de uma mulher sobre violência doméstica e agressão sexual foram ridicularizadas para entretenimento”, registra a carta.
A versão francesa da carta foi publicada pela revista L’Obs. Dentre os novos signatários estão as atrizes Ariane Labed, Zita Hanrot e Aïssa Maïga, a economista e política Sandrine Rousseau, a especialista em desinformação Stéphanie Lamy, além de psicólogos e sociológos, como a especialista em gênero Andreea Gruev-Vintila. Na lista se destaca a escritora Annie Ernaux, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura. Em sua obra, a autora joga luz sobre a vida das mulheres na França a partir da década de 1960 — O Acontecimento consiste em um relato delicado sobre aborto, e ganhou uma adaptação para o cinema.