Greve em Hollywood chega a 100 dias sem expectativa de acabar
Roteiristas estão de braços cruzados desde maio e receberam o reforço dos atores, que paralisaram as operações em julho
Nesta quarta-feira, 9, a greve de roteiristas de Hollywood chega à marca dos 100 dias, igualando a última paralisação da categoria, entre novembro de 2007 e fevereiro de 2008. Desde 1º de maio, os profissionais representados pelo WGA (Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos) estão de braços cruzados em busca de melhorias nas regras trabalhistas que regem a categoria, e que se deterioraram nos últimos anos com o avanço do streaming. No dia 13 de julho, os atores se juntaram aos escritores e também paralisaram as atividades, colocando ainda mais pressão sobre os estúdios, que não parecem dispostos a ceder às reivindicações.
Em uma entrevista recente ao podcast TV’s Top 5, do site The Hollywood Reporter, um dos negociadores-chefes do WGA, Chris Keyser, disse que os 100 dias da greve não devem ser comemorados, mas vistos como um “aniversário da vergonha” para os grandes estúdios. Ele ainda detalhou como foi a reunião entre o comitê de negociação do WGA e da Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP) na última sexta-feira, 4, dizendo que os estúdios estavam dispostos a discutir apenas alguns pontos, e que a conversa não saiu como o planejado.
“Ou eles não conseguem se recompor ou não estão se recompondo intencionalmente e fazendo exatamente o que eles alegaram que não fariam, que era criar uma situação em que pessoas famintas e desesperadas não tenham mais vontade de lutar por sua sobrevivência”, disparou ele, fazendo menção a uma reportagem do Deadline que alertava que os estúdios estariam dispostos a paralisação até o ponto em que os grevistas perdessem seus apartamentos e suas casas.
A situação que se desenha em Hollywood é reflexo de tensões em um mercado de trabalho cada vez mais pautado pela tecnologia. Entre as reivindicações dos profissionais, além de uma melhor remuneração e um aumento no repasse de lucros residuais de produções do streaming, destaque-se a regulamentação da inteligência artificial, que tem avançado a passos largos na indústria cinematográfica. Na coletiva de anúncio da greve dos atores, em julho, Duncan Crabtree-Ireland, negociador-chefe do sindicato dos atores (SAG-AFTRA) criticou uma proposta de “uso revolucionário” da AMPTP, alegando que os estúdios querem ter propriedade da imagem dos atores para reproduzi-la à revelia de autorização.
Desde que os escritores cruzaram os braços, uma série de produções foi interrompida, o que deve acarretar em atrasos em lançamentos e novas temporadas. Com os atores no jogo, a publicidade é afetada de imediato. Isso porque uma das regras da greve é que as estrelas não podem comparecer a eventos de lançamento e divulgação — o Emmy, por exemplo, que aconteceria em setembro, já foi adiado, e outras premiações da indústria também estão ameaçadas.