Os professores e o futuro da educação brasileira
Se o país quiser ter um corpo docente de alta qualidade, precisa criar mecanismos para atrair jovens qualificados entre os 30% melhores de sua geração.
Recentemente, em virtude da comemoração do Dia dos Professores, foram divulgados dados sobre os cursos de pedagogia no país e mais um programa do governo federal, desta vez anunciando a “residência pedagógica”. Na ocasião, também não faltaram as habituais denúncias sobre as perspectivas salariais dos professores. Mas não se tocou na questão de fundo, que interessa aos alunos, aos pais e à nação: quem queremos como professores nas escolas?
A situação dos cursos de pedagogia é terminal: esses cursos tipicamente atraem pessoas situadas no nível mais baixo de notas no ENEM. Mesmo que os currículos dos cursos de pedagogia fossem adequados – o que não é o caso –, não haveria muito o que fazer. A situação dos cursos de licenciatura não é muito diferente quanto ao recrutamento dos alunos. E os currículos também estão longe do que seria adequado.
A ideia de uma “residência pedagógica” é mais um desses “programas’ que o MEC lança, sem qualquer chance de sucesso. A começar pela inexistência de um plantel de mentores e de locais adequados para o exercício das boas práticas. A iniciativa pode ser catalogada na lista de factoides.
Mas o que fazer para assegurar bons professores nas escolas? Antes de avançar, é preciso fazer algumas contas.
Nas próximas décadas, teremos cerca de 2.000.000 de crianças de cada faixa etária nas escolas públicas. Se em média houver 20 crianças por classe, e se em média um professor lecionar o número de aulas de cada classe, precisaríamos de 100.000 professores para cada série, da pré-escola ao ensino médio, ou seja, 1,4 milhão de professores. Hoje temos mais de 2,2 milhões, muitos deles com carga horária dobrada.
Mais uma continha, antes de continuar: se em média os professores trabalham 30 anos, a reposição anual seria de aproximadamente 3% do plantel, ou seja, 50.000 professores por ano. Hoje se formam cerca de 125 mil pessoas anualmente apenas nos cursos de pedagogia – muita quantidade, pouca qualidade.
Se o país quiser ter e manter um corpo docente de alta qualidade, precisa mudar a forma de pensar e de agir. De um lado, precisa estabelecer mecanismos para atrair jovens qualificados entre os 30% melhores de sua geração e mantê-los pelo menos durante alguns anos na carreira. Um aviso para quem chegou à Terra agora: a ideia de que as pessoas vão iniciar e se aposentar na mesma carreira já morreu há décadas.
Quanto à formação de professores, há diferentes estratégias – esta é uma questão de fácil solução, desde que a legislação não atrapalhe, como ocorre no Brasil. Um primeiro passo é que os concursos para professor sinalizem, de forma adequada e rigorosa, o que eles devem saber. As faculdades irão se ajustar. Já o estágio probatório ou residência são questões que requerem a existência de boas escolas e excelentes mentores – não se faz com arrufos e arroubos.
Em poucas palavras: o modelo de escola tal como o conhecemos, para ter qualidade, requer professores com uma boa base e uma formação adequada. O Brasil ainda não decidiu enfrentar a questão – prefere a retórica vazia da “qualificação dos professores” e dos remendos usuais. Até que surjam lideranças capazes de apontar novos rumos, continuaremos amassando o pé no barro.