No dia 9 de dezembro de 2001, durante a madrugada, o escritor Michael Peterson ligou desesperado para a emergência: sua esposa, Kathleen, havia caído da escada. Na primeira ligação, ele disse que a mulher ainda respirava. Poucos minutos depois, na segunda chamada, Michael falou que não havia mais sinais de respiração. Quando a polícia chegou até a residência do casal em Durham, na Carolina do Norte, e analisou a cena, logo cravou que a morte de Kathleen parecia mais um homicídio do que um acidente — e Michael se tornou o principal suspeito. O caso é retratado na intrigante minissérie A Escada, da plataforma HBO Max em oito episódios — que estão sendo liberados semanalmente. Protagonizada por Colin Firth e Toni Collette, a produção observa o caso de forma dramática, trazendo à tona desde as circunstâncias bizarras da morte de Kathleen até o julgamento de Michael, num jogo acachapante entre as versões sobre a verdade.
A história real, que também já inspirou um documentário de treze episódios chamado The Staircase, da Netflix, esconde uma amálgama de situações suspeitas. A começar pela aparente perfeição da vida do casal. Os dois se conheceram em 1986 e, três anos depois, juntaram suas famílias e foram morar juntos. Kathleen tinha uma filha, Caitlin Atwater, enquanto Michael tinha dois filhos biológicos, Clayton e Todd Peterson, e duas filhas adotivas, Margaret e Martha Ratliff. A grande família esbanjava felicidade, mas com a morte da matriarca muitos segredos foram revelados — principalmente sobre a vida privada de Michael.
Segundo a perícia, a morte de Kathleen não parecia ter sido provocada por uma queda de escada porque havia muito sangue no local e ela tinha lacerações na parte de trás da cabeça. A versão que Michael sustentou até o último segundo é a de que ela morreu em um trágico acidente na escada após tomar vinho. Segundo o marido, os dois bebiam do lado de fora da casa e Kathleen foi para o quarto mais cedo enquanto ele ficou na beira da piscina fumando. Pouco depois, Michael ouviu um barulho e encontrou a mulher morta no pé da escada.
O patriarca da família foi acusado de assassinato em 20 de dezembro de 2001. Durante o julgamento muitas evidências foram levantadas contra ele. De acordo com a autópsia, sua esposa estava com o nível de álcool no sangue tão baixo durante a morte que até passaria pelo teste do bafômetro — diferente do que ele havia alegado. A polícia também encontrou no computador de Michael várias fotos de homens nus e contatos dele com um garoto de programa. Além disso, o tribunal levantou uma suspeita de assassinato por dinheiro, já que a família estava com problemas financeiros e Kathleen tinha um seguro de vida avaliado em 1,8 milhão de dólares na época.
Outra evidência bizarra que contribuiu para a sentença foi a morte de uma amiga de Michael sob condições suspeitas e parecidas com a de Kathleen. Elizabeth Ratliff, a mãe biológica das filhas que ele viria a adotar mais tarde, morreu no pé da escada de sua casa em 1985. O laudo da época havia falado que a causa da morte foi um derrame, apesar dela apresentar cortes profundos no couro cabeludo. Com as investigações do caso de Michael, o corpo de Elizabeth foi exumado e os legistas constataram que, na verdade, ela foi assassinada — apesar de Michael ter sido suspeito, ele não foi indiciado por este crime.
Em 10 de outubro de 2003, o patriarca da família Peterson foi declarado culpado pelo assassinato da esposa e condenado à prisão perpétua. Após passar 8 anos na cadeia, em 2011, ele recebeu novo julgamento e conseguiu se livrar da pena após o juiz detectar falhas no processo. Atualmente, Michael Peterson vive em Durham, na Carolina do Norte, e já escreveu um livro em 2019 contando o seu lado da história — ele nega ser culpado pela morte da esposa. Um caso que parece longe de uma conclusão.