No início do século XX, o povo Osage foi de minoria indígena encurralada no centro Oeste dos Estados Unidos para o posto de população com a maior riqueza per capita do mundo. A fortuna proveniente do petróleo encontrado na reserva onde os nativos viviam atraiu forasteiros mal-intencionados e, entre 1921 e 1925, mais de sessenta Osage morreram em circunstâncias misteriosas – e poucos conseguiram a comprovação na Justiça de que foram, na verdade, vítimas de assassinatos. O caso real envolvendo preconceito, ganância e violência no coração da história americana ganhou, enfim, a dimensão necessária com o filme Assassinos da Lua das Flores, nova produção do cineasta Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio no elenco. Baseado em um livro-reportagem, o longa explora os bastidores do crime de contornos absurdos, do tipo que desafia até a ficção. Confira a seguir três fatos reais e chocantes retratados na produção com fidelidade histórica.
O estranho amor de Mollie e Ernest
Parte mais controversa da história, o casamento de Mollie e Ernest (Lily Gladstone e Leonardo DiCaprio) é retratado da forma como os herdeiros do casal insistiram para que Scorsese o fizesse. “Margie Burkhart, neta do casal, disse que não poderíamos deixar de mostrar que os dois se amaram”, contou o diretor. O motorista de táxi e a jovem Osage se casaram em 1917, incentivados pelo tio de Ernest (vivido no filme por Robert De Niro). Como mostra o filme, eles tiveram três filhos e a mais nova morreu aos 4 anos de idade, vítima de coqueluche. Mollie ficou ao lado do marido enquanto ele confessava sua participação nos assassinatos de sua família e só o deixou quando soube que ele a envenenava. Os dois se divorciaram em 1926 e ela se casou novamente. “Ele era um homem fraco e perigoso, mas que a amava. Era uma relação perturbadora, mas não deixa de ser humana”, disse Scorsese.
Sem liberdade para mexer no próprio dinheiro
Protagonista da produção ao lado de DiCaprio, a personagem Mollie (Lily Gladstone) aparece em cena prestando contas sobre os gastos da família para um contador. Na vida real, muitos dos Osage não podiam administrar sozinhos sua fortuna por causa de uma imposição do governo americano, que considerou os nativos de linhagem “pura” como “incapazes”. Assim, tutores brancos foram designados para cuidar da economia de famílias indígenas – na cotação atual, os Osage tinham somados 400 milhões de dólares. Um estudo mostrou que esses homens roubaram ao menos 8 milhões de dólares dos nativos. Isso sem contar os ganhos que tiveram com corrupção, como, por exemplo, ao impor que os Osage só comprassem produtos de determinadas lojas que lhe pagavam propinas ou eram da própria família desses tutores.
Governo foi pago pelos Osage para iniciar investigação
O momento quase passa despercebido, mas o filme mostra que o governo americano só se moveu para investigar as mortes dos Osage quando membros da aldeia foram até Washington cobrar uma atitude e ainda pagaram 20.000 dólares pelo “incômodo” (cerca de 350.000 dólares corrigidos pela inflação). Na época, J. Edgar Hoover (1895-1972) dava início à agência que se tornaria o FBI – e o caso dos Osage se tornou a primeira grande investigação dos policiais que atuaram infiltrados no local.