O explorador e mercador veneziano Marco Polo (1254-1324), mais importante viajante da Idade Média – o período entre o ano de 395, quando ocorreu a divisão do Império Romano, e a queda de Constantinopla, em 1453 – deixou um livro sobre sua viagem espetacular. Ele atravessou toda a Ásia pela Mongólia, alcançou a China, que chamou Cathay (o norte) e Manji (o sul), e voltou por Sumatra. Realizou-a entre 1271 e 1295, acompanhado do pai, Niccolò, e do tio Matteo, permanecendo 24 anos longe da terra natal.
A obra se intitula “Il Milione” (abreviação de Emilione, apelido de família do explorador e mercador). Ficou conhecida como “O livro de Marco Polo” ou “O Livro das Maravilhas”. Na verdade, trata-se de um diário com histórias surpreendentes que ele ditou ao escritor de romances Rustichello da Pisa, enquanto ambos estavam presos em Gênova, entre 1298 e 1299, por razões políticas. No regresso da Ásia, lutou ao lado dos compatriotas venezianos na guerra contra a república instalada na atual capital da Ligúria. Deu-se mal, pois caiu prisioneiro dos inimigos genoveses.
Os relatos de “O Livro das Maravilhas” são tão fantásticos que foram questionados desde o seu lançamento. Muitos receberam a obra como se fosse produto da imaginação do autor. Duvidavam da própria ida à China pelo fato do explorador e mercador não ter citado a Grande Muralha e também porque encontravam dificuldades de identificar lugares nos quais ele dizia ter estado.
Às vésperas da morte em Veneza, porém, Marco Polo ditou novo documento: seu testamento, registrado em latim por um tabelião, em uma pele de carneiro medindo 67 por 27 centímetros. Fez isso sob o testemunho de sua mulher Donata, das três filhas do casal e do padre da família. Hoje, pertence à Biblioteca Nacional Marciana de Veneza. Submetido recentemente a exames científicos, proporcionou um novo olhar sobre Marco Polo. Confirmou-se que ele empreendeu realmente sua viagem espetacular.
A editora veneziana Scrinium, especializada em documentos universais de grande valor cultural e difícil acesso, acaba de publicar o testamento, com os necessários comentários. Intitula-se “Ego Marcus Paulo Volo et Ordino” (“Eu, Marco Polo, Desejo e Ordeno”). Destina-se sobretudo a colecionadores, historiadores e bibliotecas. “A última transcrição do testamento de Marco Polo tinha 150 anos”, afirmou Stefano Della Zana, diretor da Scrinium.
O explorador e mercador atravessou na viagem de ida os planaltos da Anatólia, no Irã, o Alto Afeganistão, o Pamir e o Turquestão chinês, até alcançar Pequim, onde teria exercido grande influência; na volta, percorreu a Indochina, Indonésia, Ceilão e costa da Índia. “O Livro das Maravilhas” menciona todos esses lugares e inclusive alguns não visitados, como o arquipélago do Japão, chamado de Cipango, as costas da Arábia, a Etiópia e o litoral africano até Zanzibar.
Marco Polo partiu de Veneza aos 17 anos e retornou à terra natal quando tinha 41 anos. Regressou com bens que lhe renderam dinheiro e prestígio, entre as quais tecidos, perfumes, pedras preciosas e especiarias. Trouxe da China informações sobre a pólvora, os fogos de artifício, o compasso marinho, o papel moeda o gás para iluminação etc. Fez a primeira referência europeia aos campos petrolíferos do Cáspio, descrevendo “um líquido semelhante ao azeite, porém que não serve para comer, mas para queimar e ungir homens e animais”.
Relatou que em torno da cidade de Baudac, hoje Bagdá, produz-se “as melhores tâmaras do mundo”. Encantou-se com o pistache, o gergelim, o painço e o ruibarbo. Deslumbrou-se com o sorvete. Fascinou-se com o iogurte, saboreado ao natural ou como ingrediente de receitas, que conheceu entre os tártaros (grupo étnico turcomano) e o descreveu como “leite desidratado, sólido como uma pasta seca”. Elogiou o macarrão e foi por algum tempo considerado seu introdutor na Itália. Teria desembarcado da China com a receita dos seus fios. Nada mais equivocado.
Segundo Massimo Alberini, na “Storia Della Gastronomia Italiana” (Edizioni Piemme, Casale Monferrato, Piemonte, 1992), essa inverdade começou a ser espalhada no século passado. Saiu no artigo “A Saga of Cathay” (ou “Catai”, nome alternativo em inglês para China), publicado na edição de outubro de 1929 do “The Macaroni Journal”, uma revista norte-americana de gastronomia.
Ali se dizia que um marinheiro italiano do barco onde estava Marco Polo foi enviado até uma pequena ilha chinesa para encher um barril com água potável. Em terra, viu uma jovem cozinhando “cordas” e pediu alguns fios crus para levar a bordo. Entregou a novidade ao explorador e mercador veneziano que os cozinhou e ofereceu aos colegas de embarcação. Todos ficaram encantados e resolveram dar ao alimento o nome do marinheiro, que se chamaria Spaghetti. Apesar de inverossímil, a história se espalhou.
Hoje, sabe-se que Marco Polo viu comerem a massa na China, mas era um alimento com características próprias. Paolo Monelli, autor de “Il ghiottone (glutão) errante” (Fratelli Treves, Milano, 1935), lembra que ele de fato se referiu a “comer farinha e lasagna como ocorre entre nós”. Parece ter conhecido variações do que os italianos chamam de tagliatelle ou pappardelle, massas cortadas em tiras. Portanto, não se referiu ao spaghetti, que são fios padronizados de massa seca e industrial. Essa modalidade tem origem exclusivamente italiana.
Em 2005, pesquisadores do Instituto de Geologia e Geofísica da Academia de Ciências de Pequim anunciaram uma descoberta surpreendente. Encontraram nas ruínas de Lajia, junto ao Rio Amarelo, na China, um recipiente contendo fios de massa mais ou menos cilíndrica. Eram à base de milhete (planta herbácea de origem asiática), feitos 4 mil anos atrás. Sabe-se ainda que em outros lugares da Ásia também se preparava massa com a fécula extraída do interior do tronco do saguzeiro, palmeira utilizada como alimento básico na região.
Ao contrário da lenda, Marco Polo não introduziu o macarrão na Itália quando voltou da China. O feito pode ser creditado aos árabes, quando ocuparam a Sicília no século IX. Eles chamavam a massa de itrija (palavra derivada do árabe itriyah, pão cortado em tiras). Em torno do ano 1000, dois séculos e meio antes da viagem de Marco Polo, o livro “De arte coquinaria per vermicelli e maccaroni siciliani” espalhou a primeira receita conhecida de massa. Foi escrito por Martino Corno, cozinheiro do patriarca de Aquiléia, no nordeste da Itália. Além disso, no século XII já funcionava uma indústria de massa nas vizinhanças de Palermo, atual capital da Sicília.
Qual a virtude da confirmação de que Marco Polo esteve na China? O reconhecimento inquestionável de que, embora não tenha trazido o macarrão para a Itália, ele abriu as portas do Ocidente para grandes invenções e a imensa riqueza cultural de um mundo até então desconhecido do Ocidente. Outros viajantes da época, como Giovanni da Pian del Carpine, italiano de Perugia, e o flamengo Guilherme de Rubruck, contaram o que viram na Ásia. Mas nenhum descreveu a sofisticação da civilização chinesa com os detalhes de Marco Polo, nem teve sensibilidade para ressaltá-la com tanta propriedade.
FRANGO AO MOLHO DE IOGURTE
RENDE 4 PORÇÕES
INGREDIENTES
.1 frango caipira
.1 l de iogurte natural
.100g de casca de laranja cortada em julienne (finas tirinhas)
.1 cebola picada
.50ml de azeite de oliva
.Pistilos de açafrão a gosto
.Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto
PREPARO
1.Corte o frango pelas juntas e tempere-o com sal e pimenta.
2.Em uma peneira, coloque o iogurte para escorrer, até soltar todo o líquido.
3.Dê um rápido banho de água fervente nas tirinhas de laranja e escorra.
4.Em uma panela, refogue a cebola no azeite já aquecido. Quando murchar, incorpore os pedaços de frango, pingue um pouco de água, tampe a panela e deixe cozinhar em fogo baixo, até a carne ficar macia. Se necessário, pingue um pouquinho mais de água durante o cozimento.
5. Quando o frango estiver cozido, junte o açafrão, as tirinhas de laranja e mantenha por mais alguns minutos no fogo. Retire então os pedaços de frango e reserve-os em lugar aquecido.
6.Adicione o iogurte ao fundo de cozimento da panela, misture bem e ajuste o sal e a pimenta, se necessário. Finalize o prato, colocando esse molho sobre o frango.
7. Sirva em seguida.