18 de fevereiro, 11h53: Completaram-se três meses desde que tomei, no Rio de Janeiro, a vacina experimental, de dose única, desenvolvida pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson. Neste período, o mundo recebeu com euforia a aprovação de imunizantes de RNA mensageiro, como os da Pfizer e da Moderna, de técnicas clássicas de vírus inativado, como a CoronaVac, e de vetor não replicante, como a Oxford/AstraZeneca e, ao que tudo indica, em breve também a da Janssen. Existe não só em voluntários como eu um misto de otimismo com antígenos sendo enfim distribuídos e de pavor por constatarmos que as taxas de infecção continuam nas alturas, com previsões de cerca de 100.000 brasileiros mortos nos próximos três meses.
Dito isso, um alerta importante deve ser feito àqueles que conseguiram receber as parcas doses de vacina disponíveis no Brasil: tomar as duas ampolas da CoronaVac ou do antígeno de Oxford não significa que você está 100% protegido. Quando o corpo humano recebe qualquer vacina, é necessária uma espécie de tempo de maturação para que o organismo crie proteção contra o agente causador da doença. No caso da Covid, essa proteção é esperada em duas semanas após a segunda dose, explica a infectologista e vice-presidente do Sabin Institute Denise Garrett.
Depois da segunda aplicação, também não é verdade que agora está tudo resolvido. As vacinas de que dispomos são bem eficazes contra versões de moderadas a graves da Covid-19 e contra internações hospitalares e mortes. Apenas quando atingirmos a imunidade coletiva – na casa dos 70% a 80% de toda a população vacinada – é que poderemos pensar em baixar a guarda e nos sentirmos, aí sim, protegidos.
Nesta quarta-feira o ministro da Saúde Eduardo Pazuello anunciou que haverá quase 231 milhões de doses de vacinas anti-Covid no Brasil no primeiro semestre. Sem entrar no mérito de se o planejamento será mesmo cumprido, já que na lista existem antígenos ainda em negociação de compra, como a russa Sputnik V e a indiana Covaxin, o importante é a vacinação ser urgentemente acelerada, e não dramaticamente interrompida por falta de doses, como tem ocorrido em várias capitais.
No discreto ritmo de imunização em que estamos, não há impacto na redução da transmissão do vírus e nem chances de alcançamos logo a imunidade de rebanho. Com a descoberta de variantes mais transmissíveis e a confirmação de reinfecções de pacientes com as novas cepas, a aceleração da vacinação é cada vez mais urgente.
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