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Crônicas de Peso

Por Cid Pitombo Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O cirurgião bariátrico e pesquisador na área de obesidade Cid Pitombo reflete, em seus textos, sobre alimentação, movimento, ganho... e perda de peso
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Entre o Instagram e o Guia Michelin: o que é apreciar comida hoje?

Colunista discute como apelo e dependência das redes sociais desvirtuam o universo gastronômico e o prazer de comer

Por Cid Pitombo
7 out 2024, 13h00

Não é de hoje que o universo das redes sociais vem mudando o comportamento das pessoas. Vivenciar o prazer de ser visto, ostentar e falsear uma vida de luxo e felicidade que muitas vezes é meramente virtual se tornou um hábito (ou uma fuga) de milhões de pessoas pelo planeta. E, claro, essa história influencia até como as pessoas se alimentam e apreciam aquilo que têm a oportunidade de comer.

Mais: isso está mexendo até com o mundo da gastronomia? Bem, além de cirurgião e pesquisador na área de obesidade, também me aventuro entre bons restaurantes.

O fato é que o universo da gastronomia é mágico desde os seus primórdios. Uma das coisas que motiva o ser humano a seguir em frente é a comida. Com a descoberta do fogo e dos métodos de cozimento, passamos a desfrutar de itens antes inimagináveis – pense em comer um bife ou uma batata sem cozinhá-los primeiro – e tornamos diversos alimentos mais palatáveis, limpos e isentos de micróbios.

Passados centenas de milhares de anos, o homem se viu com uma variedade infinita de combinações e sabores. Surge a arte da gastronomia.

A magia de misturar ingredientes, criar receitas e acertar o ponto, como se fosse uma espécie de alquimia, propicia, a nossos órgão sensoriais, sensações únicas. Não é à toa que alguns chefs são celebrados como grandes artistas.

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O amor das pessoas que se dedicam a essa causa envolve não só o cuidado com o restaurante – as panelas, os talheres, toalhas e louças – mas também uma verdadeira dinastia de indivíduos que, da produção da comida no campo ao momento de entregá-la à mesa, trabalha em prol de uma arte que alimenta o corpo e a alma.

Um chef estrelado não busca só o fator financeiro – isso vem quase naturalmente. Ele se importa com a sensação que vai despertar no cliente. Daí vem o reconhecimento.

Criar, nesse universo de possibilidades, algo diferente e de extremo sabor denota muito tempo, provas, inovações e pesquisas. São caçados ingredientes locais, frescos e de sabor inigualáveis. Prestigia-se, inúmeras vezes, a cultura regional.

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Avaliadores, dos mais qualificados, exploram secretamente esses ambientes e transformam um imenso trabalho de garimpagem em estrelas – eis o famoso Guia Michelin. Durante os últimos 20 anos, percorri e tive prazer de conhecer e provar centenas desses restaurantes ao redor do mundo e posso dizer que a sensação é única em cada um deles.

Mas um estranho movimento vem ganhando força na última década: a ideia de somente fotografar os pratos para postar nas redes, sem apreciá-los de fato. Não importam o sabor, o cheiro, a apreciação, o respeito. Importam a montagem, a luz, o nome do restaurante.

A maior parte das mesas tem sido ocupadas por pessoas que buscam tirar fotos e compartilhá-las instantaneamente nas mídias sociais, marcando o local e divulgando seu status. Antigamente, reservar uma mesa num restaurante de alta gastronomia significava entrar numa lista de meses de espera. Hoje é questão de dias ou horas… O motivo? Muitos dos verdadeiros apreciadores dessas obras de arte se cansaram.

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Certa vez, estava almoçando em um famoso restaurante na Toscana e, em um momento de distração da atendente, um casal entrou, se sentou em uma das mesas e ficou fazendo fotos e poses ali. Ao perceber, a recepcionista foi até eles e perguntou se tinham reserva. Era óbvio que não. E eles foram embora mais felizes do que se tivessem almoçado uma iguaria. Para eles, o mais importante era fazer a selfie e o post. 

Dentro das redes sociais, eles estiveram lá e é isso que vale: mentira com foto tem mais sabor do que um prato pensado e produzido por um grande chef. A imagem está vencendo o aroma e o paladar. Anos de trabalho por um prato refinado são desvalorizados assim.

Não é por menos que há um movimento em que os apreciadores da boa cozinha, esses que preferem comer sem o celular à mão, têm procurado cada vez mais restaurantes locais e isolados, sem ambiente para fotos no Instagram ou mesmo estrelas Michelin. Parecem ser os únicos lugares em que podemos preservar a arte de apreciar pratos fantásticos.

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E essa é apenas uma das facetas dessa tendência alimentada pelas redes sociais. Quando não prestamos atenção àquilo que comemos, também perdemos a oportunidade de nutrir o nosso corpo e ficamos mais propensos a exageros. Mas esse é um assunto para uma próxima crônica…

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