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Tarefa histórica

Precisamos debater escolas e não prisões

Por Cristovam Buarque Atualizado em 3 jun 2024, 17h07 - Publicado em 29 mar 2024, 06h00
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  • Em 2026 o Brasil terá sua décima eleição presidencial desde a redemocratização. Depois de quatro décadas, porém, a democracia está em dívida com a nação e o povo ao deixar a maior parte da população no analfabetismo para o mundo contemporâneo. Mas tudo indica que o próximo pleito ainda não será o momento em que os eleitores escolherão pagar essa dívida, enfrentando os desafios e custos necessários para assegurar educação de qualidade para todas as crianças brasileiras. Os temas centrais dos debates serão outra vez crescimento econômico, segurança pública, saúde, distribuição de renda, pobreza, corrupção — pode ser até mesmo mais universidades, dificilmente educação de base, que continuará sendo questão relegada aos municípios, pobres e desiguais.

    Nada indica que haverá a percepção de que a tragédia social e econômica decorre, sobretudo, embora não apenas, do descuido com a principal causa de nossa demora para construir um país eficiente, justo, pacífico, sustentável, com liberdade plena. Cada um dos problemas fundamentais do Brasil passa pela educação de base com qualidade para todas as crianças. Enquanto outros países já nos superaram, ainda não conseguimos escapar da armadilha da nossa baixa renda per capita. A Coreia do Sul, que há quarenta anos tinha metade de nossa renda média, hoje tem hoje o dobro.

    “A educação de base é a principal barreira a impedir nosso avanço civilizatório”

    A barreira decorre de nossa poupança insuficiente, do pequeno investimento, da instabilidade jurídica e do isolamento comercial. A principal causa, contudo, é a baixa produtividade por falta de educação de base capaz de preparar a população para a atividade econômica moderna. A concentração de renda, que nos faz parecer um país ainda escravocrata e com apartação, só será rompida se antes houver distribuição de conhecimento. A violência urbana, que nos transformou em exemplo mundial de insegurança, com condomínios cercados e ruas tomadas pelo medo, é causada especialmente pela falta de oportunidade, ao negar-se educação para os jovens, que sem estudo e trabalho são tentados a sobreviver no crime. O racismo não será superado apenas com leis para raros alunos entrarem no ensino superior, mas por colocar todos, pobres e ricos, brancos e negros estudando juntos no mesmo sistema escolar.

    A próxima campanha presidencial seria um momento para os eleitores brasileiros tratarem a educação de base como questão nacional. Mas, pode-se prever que dificilmente alguma candidatura centrará o debate na escolha da melhor estratégia para o Brasil ter suas escolas com a máxima qualidade pelos padrões mundiais, independentemente da renda e do endereço de cada família.

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    Apesar de sabermos como fazer e termos os recursos para cumprir essa meta, nada indica que este será um tema central da campanha. A centralidade dos debates deverá ser a violência, cumprindo o que Darcy Ribeiro previu em 1985: ou “fazemos escola agora ou no futuro teremos de fazer cadeias”. Em 2026, vamos debater prisões, não escolas.

    Continuará faltando um estadista “educacionista” para oferecer as bases da Missão Educação que realize a tarefa histórica de superarmos a principal barreira a impedir nosso avanço civilizatório.

    Publicado em VEJA de 29 de março de 2024, edição nº 2886

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