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Um guia para navegar em meio à ‘epidemia’ de TDAH

Livro que acaba de sair, assinado por dois especialistas no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, traz estratégias para mantê-lo sob controle

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 set 2024, 09h21 - Publicado em 6 set 2024, 17h10
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  • TDAH
    TDAH: diagnóstico em alta, especialmente após pandemia e maior dependência de redes sociais (Ilustração: VEJA SAÚDE/VEJA)

    Há 30 anos, os psiquiatras John Ratey e Edward Hallowell colocaram o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) nas rodas de conversa e na boca do povo. Em 1994, lançaram Tendência à Distração, o livro que viria a popularizar a condição que hoje afeta entre 5 e 8% dos brasileiros – e cujo diagnóstico só vem aumentando.

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    Os dois têm lugar de fala. Ambos convivem com o transtorno como médicos… e pacientes! Agora, três décadas depois da obra precursora, eles publicam no Brasil, pela Editora Sextante, TDAH 2.0, título que atualiza as descobertas da ciência sobre o problema e ensina táticas para lidar com ele, tanto na infância como na vida adulta.

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    O livro destaca, por exemplo, o papel da meditação e dos exercícios físicos na mudança de padrão cerebral que permite conviver melhor com o déficit de atenção e a hiperatividade mental, mas também reforça a importância do uso de medicações, quando bem orientado e supervisionado por especialistas.

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    Em entrevista a VEJA, John Ratey, que é professor da Universidade Harvard, comenta os avanços no conhecimento sobre o distúrbio, o boom de novos casos e o perigo de banalizar o tratamento com remédios.

    Com a palavra, o autor.

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    O médico e professor John Ratey, expert em TDAH (Foto: Acervo do autor/Reprodução)

    Qual foi o grande progresso científico na compreensão do TDAH desde que publicaram seu primeiro livro, há 30 anos?

    Muita coisa aconteceu desde que publicamos Tendência à Distração. O que hoje sabemos sobre como o cérebro funciona, mais detalhadamente a atenção, colocamos no livro TDAH 2.0. Uma boa maneira de entender a questão é pensar no cérebro em termos de conectomas [redes de conexões entre neurônios]. Basicamente são partes do órgão que trabalham juntas o tempo todo. O que vemos no transtorno de déficit de atenção é um padrão muito distinto em um desses conectomas, a chamada rede de modo padrão, que é ativada especialmente quando você não devia estar pensando em nada. Só que, entre pessoas com TDAH, a mente fica vagando o tempo todo, está sempre procurando por algo.

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    No cérebro delas, isso é compensado por outro conectoma, a rede de tarefa positiva, que é estimulada quando estamos tentando prestar atenção em alguma coisa. Ela atua para diminuir o poder da rede de modo padrão. Só que isso não acontece no TDAH. A rede de modo padrão continua a tagarelar, pedindo para buscar outra coisa interessante, não ficar preso ali. Para calar a boca dela, digamos assim, é preciso prestar atenção em algo muito importante ou crucial.

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    Mas o que pode silenciar essa rede que consome a atenção?

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    Práticas como a meditação, certos medicamentos e a atividade física têm um papel a desempenhar aqui. Eles ajudam a silenciar a rede de modo padrão para que o indivíduo não seja afastado daquilo em que está prestando atenção. Esse é o ponto: as pessoas com TDAH estão constantemente sendo afastadas de algo no qual estão tentando focar. Não conseguem manter a atenção porque há todo tipo de distração em volta. Se pensarmos dessa forma e entendermos que temos ferramentas como medicação, meditação e movimento, teremos mais chances de fazer os pacientes compreenderem o que estão enfrentando e uma boa dinâmica para lidar com todos os seus sintomas.

    Estamos vendo um crescimento no número de pessoas com TDAH. Acredita que há uma banalização do diagnóstico?

    Não, acho que o problema é que todos nós temos uma atenção passageira. E nossa capacidade de prestar atenção está sendo reduzida, especialmente devido à digitalização e às redes sociais. É um processo rápido, rápido, rápido. A todo momento, a gente capta algo novo, algo mais sexy ou importante, que nos levará para longe daquilo em que estávamos tentando prestar atenção.

    O fato é que hoje temos mais dificuldade em sustentar a atenção, é algo com o qual teremos de aprender a lidar. E isso pode fazer muitas pessoas pensarem que possuem o transtorno de déficit de atenção. Mas os indivíduos que têm isso de sobra e enfrentam essa dificuldade significativamente são aqueles que tentamos abordar no livro. São eles que precisam de remédios, de meditação, de exercícios físicos… Que precisam se apaixonar, ter um bom parceiro ou emprego para o qual possam direcionar sua atenção.

    No livro, vocês relatam que muitos pacientes e familiares resistem ao tratamento medicamentoso do TDAH. Ao mesmo tempo, pessoas sem a condição tomam remédios para essa finalidade buscando ficar mais espertas. Vivemos um paradoxo?

    Acho que sempre tivemos esse paradoxo. Os pais hesitam em usar remédios para seus filhos ou para si mesmos. As pessoas preferem aguentar firme, descobrir uma maneira de controlar as coisas sem medicamentos. É por isso que também oferecemos meios de ajudar sem recorrer aos fármacos, buscando criar um ambiente melhor, recomendando exercícios físicos e meditação. O fundamental é se conectar com aquilo no qual você está tentando manter a atenção.

    O paradoxo é que muitas pessoas nos Estados Unidos, por exemplo, foram diagnosticadas com TDAH durante o confinamento imposto pela Covid-19. Aquele era o pior ambiente para manter a atenção, só podíamos ficar em casa, longe de todos os outros. Então o que aconteceu? As pessoas apresentaram mais e mais sintomas de TDAH, mais problemas de comportamento, motivação, ansiedade, solidão e atenção. O que elevou o número de pacientes sendo diagnosticados e tratados com medicamentos.

    Não sei o que aconteceu no Brasil, mas, nos EUA, chegamos a ter uma grande escassez desses remédios, era muito difícil encontrá-los. O que vemos agora, e é provavelmente um fenômeno mundial, é que as pessoas partem do princípio que podem tomar remédios para prestar mais atenção. Inclusive na faculdade e no colégio. Elas querem tomar estimulantes para ficarem acordadas, escreverem seus trabalhos do semestre e concluírem seus exames. Esse é o problema: alguns podem ter TDAH, mas muitos deles não têm. E há quem pegue remédio emprestado dos amigos, o que, claro, é desaconselhável.

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