A China é famosa pelos números estrondosos. Tem mais de 1,4 bilhão de habitantes, só perdendo para a Índia em população. Dispõe de 9,6 milhões de quilômetros quadrados, a quarta nação em dimensões no planeta. E ostenta um PIB de 18,2 trilhões de dólares, o segundo no ranking mundial, de acordo com a projeção para este ano. Conhecemos a pujança chinesa em termos políticos e econômicos, mas, eis um paradoxo, mal preencheríamos os dedos de uma mão se tivéssemos que citar representantes de sua literatura.
Pois essa lacuna pode ser encolhida com a Antologia Sino-Brasileira de Contos, obra publicada pela editora e-galáxia e fruto de uma parceria entre a União Brasileira de Escritores e a Associação de Escritores de Xangai. O livro constrói uma ponte cultural entre os dois países, transpondo Machado de Assis e outros autores destas terras ao mandarim e apresentando ao nosso público nomes das letras chinesas inéditos no país.
Gratuito, o e-book bilíngue nos oferece a oportunidade de desbravar um pedaço da literatura chinesa até então oculto a quem não domina o mandarim e os ideogramas milenares – os contos são circunscritos a autores contemporâneos da região de Xangai que se expressam nesse idioma.
E assim podemos acompanhar, entre a inocência e a angústia, o diário de uma garota com a mãe doente em Menina Velha, de Yao Emei, e se surpreender com o realismo mágico de A Ilusionista, de Sun Wei, dois dos oito conto chineses que se completam com os oito textos brasileiros (de A Cartomante, de Machado, a Má Sorte, da brasiliense Paulliny Tort).
Antologia Sino-Brasileira de Contos
Para entender os bastidores desse trabalho, conversamos com a editora da obra. Com a palavra, Sandra Espilotro.
A antologia traz autores chineses inéditos para o público brasileiro. O que mais lhe chamou atenção entre eles?
A similitude entre o nosso cotidiano e muito do deles. Ainda, quanto aos contos chineses, as diferenças culturais em relação ao Brasil.
Qual foi o principal critério de seleção dos contos?
Posso responder quanto à seleção dos contos brasileiros: procurei dar uma amostra dos nossos contistas clássicos; por outro lado, não quis deixar de lado a oportunidade de apresentar o novo do conto brasileiro, já que temos excelência nos autores atuais, todos premiados ou finalistas de importantes prêmios literários. São apenas oito contos nossos, então resolvi trazer de Machado aos atuais.
E os chineses?
A seleção dos contos chineses ficou a cargo da equipe editorial da Associação dos Escritores de Xangai. Nós não interferimos na decisão deles. Desde o início do trabalho ficou determinado que a escolha seria pessoal de cada um dos dois lados.
O que esperam apresentar ao leitor chinês?
Senti necessidade de passear por autores clássicos e contemporâneos e dar um painel com representatividade ampla, inclusive de épocas diferentes.
Se tivesse que escolher um único conto para representar a literatura do Brasil, qual seria?
Difícil essa resposta, até porque ótimos contistas ficaram de fora por pura limitação de espaço. Mas, para não fugir da pergunta, e acho que todos concordam, o Bruxo do Cosme Velho é imprescindível.