“Salagadula, mexicabula, bíbidi, bóbidi, bu!”. Assim canta, animada, a fada madrinha de Cinderela enquanto, sob os toques de sua varinha, uma pesada abóbora se transforma em carruagem. Embasbacados, os ratinhos e a jovem observam aquele vegetal se tornar um veículo de sonhos que levará a mocinha ao baile.
Embora me encante ver, no filme clássico da Disney, as ramas retorcidas do alimento dando lugar a eixos e rodas de uma confortável cabine, devo dizer que, para o meu gosto, a abóbora é valiosa em si, sem precisar de palavras mágicas.
Sempre fui perdidamente apaixonada por ela. Com seu baixo teor calórico, riqueza em fibras, e como uma excelente fonte de vitaminas e minerais, a abóbora ajuda muito a manter nossa energia elevada. Sem contar sua versatilidade culinária, que permite utiliza-la em sopas, purês, saladas e até em sobremesas. No Brasil, são mais comuns a moranga, famosa na versão recheada com camarões, a japonesa (ou cabotia), e a de pescoço, mais fibrosa e perfeita para doces.
Há, ainda, uma variedade chamada Bavette que, quando cozida, desfaz sua polpa em fios adocicados que lembram espaguete. Esses podem ser usados como substituto de massas, absorvendo bem molhos, e sendo perfeitos para dietas sem glúten e de baixo carboidrato.
Quando a abóbora surgiu, há mais de 7.500 anos, só tinha valor quando esvaziada. Os indígenas da América Central se valiam de sua dura casca para confeccionar recipientes e utensílios. Mas foi só com o tempo que o fruto, domesticado, alcançou uma polpa mais macia e saborosa.
Ela já era apreciada nas Américas quando os colonos nos Estados Unidos aprenderam, com os nativos locais, a cultiva-la. A abóbora acabaria sendo muito importante para a alimentação dos que chegavam por lá. Não à toa, ela tem papel central nas refeições do Dia de Ação de Graças.
Foi também uma onda migratória que ligou a abóbora ao Halloween. A noite das bruxas já era celebrada na Irlanda, onde, pela tradição celta, nabos eram esculpidos com rostos assustadores iluminados por velas. Esses artefatos, batizados de “jack-o-lanterns”, tinham a finalidade de afastar os maus espíritos na noite que marcava o fim da colheita de outono. Quando chegaram aos EUA, no século 19, os irlandeses deram continuidade à tradição, só trocando o nabo pela abóbora, mais fácil de esculpir e fartamente encontrada por lá. Com isso, criaram um símbolo conhecido e copiado no mundo todo.
Falei de uma metamorfose de conto de fadas, no começo deste texto, e peço licença para falar de outra, bem real. Quando eu mesma me encontrava em plena transformação de vida, a abóbora passou a ocupar um lugar central à minha mesa. Meu apreço pelo alimento era tamanho que, após emagrecer, cheguei a considerar abrir um restaurante no qual a abóbora seria o ingrediente principal de todos os pratos. Seria minha forma de prestar tributo a essa tremenda aliada.
Quando virei colunista, minha fé na abóbora era tal que, ao encontrar um delicioso doce diet, fiquei maravilhada. Comprei, comi e recomendei o produto nas publicações para as quais escrevia. Parecia até mentira que aquele doce pudesse ser tão gostoso! Opa. Será que só parecia?
Intrigada, mandei examiná-lo em um laboratório: para minha decepção, na composição escondiam-se doses não declaradas de açúcar. Fiquei tão indignada que cheguei a denunciar o caso em um programa de televisão. Não era necessário fazer isso e macular a fama de um ingrediente tão nobre. Afinal, o que se pode fazer com ela, sem recorrer a truque algum como diria a fada da Cinderela, é pura magia. Acredite-se ou não!