O viajante francês Jean de Léry se fascinou com muita coisa quando andou por aqui, no século 16. Mas, no longo relato de suas viagens pelo Brasil, não hesitou em concluir: o abacaxi era o mais excelente fruto da América.
Era algo tão exótico que ele precisou de muitas comparações para descrevê-lo a seus leitores. Disse que a planta tinha folhagens como as da babosa; no meio, nascia um fruto com jeito de alcachofra ou de pinha, mas do tamanho de um melão. Quando maduro, tinha um cheiro tão forte de framboesa que se sentia de longe.
É até engraçado tentar imaginar a fruta a partir dessa tentativa meio desconjuntada. Nas nossas latitudes, ela é das mais antigas: os indígenas sul-americanos já a cultivavam 3.000 anos antes da chegada dos europeus. Como era apreciada, passou a ser trocada com outros povos, como sinal de amizade, e assim se espalhou até o Caribe. Foi lá que Colombo a descobriu, ainda no século 15.
Fazer o abacaxi cruzar o Atlântico foi um desafio; ele não durava o tempo da travessia. Produzi-lo do lado de lá também não era fácil, pois, sendo uma bromélia, requer calor e umidade. Assim, tornou-se objeto de curiosidade e símbolo de luxo. Cultivado pela realeza em estufas, às vezes era mais usado como decoração em festas do que consumido à mesa.
Sua figura foi adotada em estampas, móveis e em esculturas colocadas em portões como símbolo de hospitalidade. Para ampliar o acesso ao cobiçado fruto, os europeus trataram de plantá-lo em suas colônias mais quentes.
Logo notaram suas propriedades digestivas. Elas eram conhecidas já entre os povos daqui, que comiam a fruta e usavam seu sumo para bebidas, mas também para amaciar carnes – a ciência comprovaria que isso se deve a uma enzima que quebra as proteínas, a bromelina.
Os nomes que ganhou mundo afora ressaltam suas características. Na língua tupi-guarani, chamou-se “ibá cati’ – “fruta cheirosa”, o que gerou “abacaxi”, para os brasileiros – ou “anas” – “cheiro excelente”, que deu em “ananás”, mais adotado na Europa. Em outros idiomas, o aspecto exterior prevaleceu. No inglês é “pineapple”, “pomo do pinheiro”, e em alguns países hispânicos, “piña”, igual aos frutos das coníferas.
Curiosamente, no Brasil, e só aqui, o nome elogioso se tornou sinônimo de “complicação”. Pensando bem, até faz sentido. Temos essa longa história com a fruta e até hoje estamos entre seus maiores produtores. Assim, sabemos muito bem que, depois da sedução perfumada, dá trabalho chegar ao prêmio.
Indo além da metáfora, descascar um abacaxi é um problema universal. Vídeos na internet apregoam que a maneira “certa” seria puxar seus gomos – mas isso só funciona com algumas variedades asiáticas, menores, e têm de estar bem maduras.
Vencida essa etapa, encontra-se um verdadeiro tesouro. Por si só, ele é uma sobremesa deliciosa e light. Ainda como doce, permite muitas variações e, em purê, pode substituir a manteiga em bolos. Gosto também de usá-lo em receitas salgadas, como espetinhos em que seus cubos são envoltos em peito de peru e grelhados, ou em saladas.
Rico como é, o abacaxi merece mesmo ser guardado por uma armadura; sua coroa impõe o respeito que se dá aos soberanos. Aliás, até me espanta que Léry não tenha feito essa comparação: o abacaxi é como um rei de coração generoso.
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