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Coluna da Lucilia

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Doce frescor

Como não louvar a melancia, amiga dos dias de calor?

Por Lucília Diniz
10 out 2024, 18h21

Embora o desenho esteja desbotado pelo tempo, a forma ovalada e as listras verdes não permitem equívoco: é uma melancia que aquele afresco em um monumento egípcio representa. Sinal certeiro de que ela já era popular nas paragens dos faraós.

Sabe-se que ela nasceu em algum outro ponto da África. Uns dizem que no sul; outros, que veio do Sudão, de onde teria se espalhado ao longo do Nilo, sendo domesticada pelos egípcios. Como prova o tal afresco, eles a consideravam um tesouro digno de ser levado para uma outra vida.

Já nós, que estamos bem vivos, podemos apreciar seu doce frescor agora mesmo, nos dias quentes que se aproximam. Como pode ser tão saborosa sendo 90% água? E versátil também.

Sim, você leu bem. Dá para aproveitar a melancia de muitas formas que não somente às dentadas, como gosta a simpática Magali de Maurício de Sousa.

Sou particularmente fã do suco da fruta com gengibre. Mas ela vai bem em saladas e, com criatividade, pode até figurar como prato principal. Uns anos atrás, quando ficou na moda um churrasco de melancia, eu me espantei: não com a sugestão em si, mas com o fato de que só então notassem que toda aquela suculência se prestava ao fogo.

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Há coisa de 20 anos, o sempre engraçado José Simão contou em um texto que, zapeando depois do Carnaval, deu comigo na televisão, preparando “um prato bem light”, bom para as ressacas da folia que ia se encerrando. “Água grelhada”, gargalhou o colunista. Ri junto.

Não se passou muito tempo, em outro jornal, já nos Estados Unidos, vi uma notícia contando que um chef tinha inovado o menu de uma famosa casa de carnes inventando bifes de melancia. Ultimamente, ela tem aparecido, de forma parecida, no lugar de atum preparado com temperos orientais.

Nem sempre, porém, ela teve a cor vermelha que hoje inspira essas receitas. Em seu estado selvagem, ela era branca e tinha o amargor também presente em seus “primos” pepino e abobrinha. Aí é que entrou o engenho dos agricultores egípcios, que cruzaram os melhores frutos sucessivamente, até dar na fruta que conhecemos. Isso já tem mais de 3.500 anos, como mostrou a análise de DNA de uma folha de melancia encontrada junto a uma múmia.

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Os romanos, que comerciavam com o Egito, se encantaram com a fruta e a levaram para a Europa, através de suas rotas comerciais no Mediterrâneo. Já no século oitavo, foi adotada na Península Ibérica dos mouros.

Vêm dessa conexão alguns nomes que ela tem em países europeus. Em francês, é “pastèque”, do árabe “baṭṭīḫ”. Na Espanha, foi chamada de “sandía”, que significa “da Índia” – pois, viajando para o Oriente nos farnéis da expansão islâmica, ela chegou até lá, e também à China, maior produtor atual da fruta.

Cruzou ainda o Atlântico e se fixou bem no Novo Mundo. No sul dos Estados Unidos, onde o clima favoreceu seu cultivo, ela se tornou especialmente popular. No Texas, há festivais dedicados à fruta, com competições de quem a come mais rápido e de decorações feitas com ela. Do outro lado da fronteira, no ensolarado México, pintores como Diego Rivera e Rufino Tamayo a eternizaram em telas.

Recentemente, ela andou na boca do mundo todo, mas na forma de um hit: na canção “Watermelon Sugar”, açúcar de melancia, o cantor pop Harry Styles associa sua doçura aos amores de verão. Eis um açúcar que pode ser consumido sem culpa.

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