Lula dá tiro no pé ao optar pelo caminho que encolhe Fernando Haddad
Ao anunciar que novo arcabouço fiscal ficará para abril, presidente tira protagonismo do auxiliar e valida fogo amigo que vem desde os tempos da campanha

Com apenas poucas palavras proferidas nesta terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que fez uma escolha. Não a respeito do novo arcabouço fiscal, cujo teor é aguardado ansiosamente pelo mercado e agora deve ser conhecido somente no próximo mês. Mas sim a respeito do papel de seu ministro da Fazenda na condução da política econômica e no governo como um todo.
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A essa altura do campeonato, não era novidade para ninguém que a negociação da âncora fiscal não saiu como Fernando Haddad gostaria. O ministro da Fazenda queria acelerar a divulgação do projeto, na esperança de sensibilizar o Comitê de Política Monetária do Banco Central a baixar a taxa de juros na reunião iniciada hoje. Ou, ao menos, apontar para a possibilidade de queda num futuro próximo.
A postura de Haddad era um sinal de confiança do próprio ministro na proposta. Ele acelerou o passo, mostrou o teor do projeto ao presidente na sexta-feira. Manteve-se em silêncio a respeito do seu conteúdo, para depois assistir na imprensa a declarações de outros membros do governo a respeito do que foi apresentado. Até aí, tudo bem, sempre dá para dizer que foi um plano calculado, para expor parte do novo arcabouço e sentir a temperatura.
Mas o quadro mudou nesta terça-feira. Lula decidiu tirar de seu ministro o papel de porta-voz dessa negociação. Ele poderia ter deixado Haddad anunciar que a divulgação do novo arcabouço fiscal ocorreria apenas em abril, após a viagem à China no fim do mês. Não era o que o ministro esperava, mas é parte da política. Em vez disso, prevaleceu aquela imagem que os próprios aliados de Lula gostavam de difundir na campanha presidencial, quando diziam que o ministro da Fazenda de fato seria o presidente e que o ocupante da cadeira seria um executor.
Lula ainda foi além. Também partiu para cima da taxa de juros no mesmo dia em que o Copom iniciou sua reunião para definir o patamar da Selic, hoje em 13,75%. Em entrevista ao site Brasil 247, disse que vai continuar “batendo” na taxa, que descreveu como “absurda”. Por mais que não houvesse esperanças significativas de uma redução da Selic até amanhã, é um movimento que vai na contramão do esforço de seu ministro. Haddad trabalhou nas últimas semanas por uma convergência com o Banco Central. Não pelo embate.
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