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CannabiZ Por André Sollitto e Ricardo Amorim Novidades e reflexões sobre o mercado da cannabis legal, no Brasil e no mundo
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A Anvisa vai regulamentar o cultivo de ‘Cannabis’ no Brasil?

Às vésperas da decisão da agência reguladora, pacientes, ativistas e empresas fazem suas apostas e se preparam para o dia seguinte

Por Ricardo Amorim Atualizado em 4 out 2019, 15h06 - Publicado em 4 out 2019, 14h13
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  • Plantação de maconha
    Decisão da Anvisa sobre o cultivo de cannabis no Brasil deve afetar a rotina de empresas e pacientes (Darren Staples/Reuters/VEJA)

    Está marcada para a próxima terça-feira, dia 8, a reunião da Anvisa que vai analisar as propostas para o cultivo da Cannabis medicinal e o registro de medicamentos à base da planta no Brasil. A expectativa é grande entre médicos, pacientes, ativistas, investidores e empresários interessados no tema. A grande questão que se impõe é se a agência vai autorizar o cultivo da erva e sob quais condições. Na última quarta-feira 2, em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente da Anvisa, William Dib, garantiu que não cederá às pressões do governo federal para vetar o plantio em território nacional. O principal adversário da planta no executivo é o ministro da Cidadania, Osmar Terra, para quem há um “lobby maconheiro” em atividade no país.

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    Dib defende o cultivo por pessoas jurídicas, somente em ambientes fechados e com diversos dispositivos de segurança. Para ele, os inúmeros habeas corpus vigentes no país, que autorizam pacientes a plantar o seu remédio, justificam a defesa de uma regulamentação que garanta a qualidade e a procedência dos derivados da Cannabis. “Hoje existem várias entidades e organizações com autorização judicial. Centenas de pessoas físicas também têm essa autorização para plantio. Como a gente pode conviver com o Judiciário autorizando esses plantios e isso ser pior do que a gente regulamentar, fazer um plantio seguro, indoor, sem risco de disseminação dessa planta e de uso recreativo?”, questionou na entrevista à Folha.

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    Para quem milita na defesa da legalização, a autorização para o cultivo não pode ser restrita às pessoas jurídicas, como escrevi no post da semana passada. Diante das muitas possibilidades, analiso abaixo os cenários mais prováveis e suas possíveis consequências. Isso se não houver um pedido de vistas na reunião que atrase todo o trâmite da proposta.

    Registro de medicamentos no Brasil com cultivo proibido

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    Para as empresas que importam os produtos derivados de Cannabis, essa modalidade deve facilitar o processo. Com os produtos registrados no país, será possível manter estoques por aqui e abastecer os pontos de venda, reduzindo consideravelmente o tempo de espera dos pacientes. Ao importar em maiores quantidades, o custo do frete também pode cair, o que possibilita redução dos preços ao consumidor final. De qualquer forma, será um revés para quem sonha com uma indústria brasileira da cannabis, capaz de investir em pesquisa e no desenvolvimento de novas tecnologias e diferentes usos para a planta.

    Para os pacientes que cultivam com a proteção de habeas corpus, pouco vai mudar e a judicialização deve seguir como uma alternativa interessante para quem não tem condições de arcar com os custos dos tratamentos oferecidos pelos importadores.

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    Registro de medicamentos no Brasil com cultivo permitido para empresas

    Nesse cenário, considerado o ideal por muitas empresas e investidores interessados em explorar o mercado da Cannabis medicinal por aqui, haverá uma corrida para garantir o pioneirismo no cultivo e no lançamento de produtos “made in Brazil”. Caso prosperem as condições inicialmente propostas pela Anvisa, com diversas barreiras para dificultar o acesso às plantações, em nome da segurança, apenas grandes grupos serão capazes de arcar com os custos para atender às exigências das autoridades. A necessidade intensiva de capital vai pressionar os preços e tornar o produto nacional pouco competitivo no cenário externo, onde Colômbia, Uruguai, México e Paraguai, para ficar apenas na América Latina, já se movimentam para se tornar exportadores de matéria-prima e medicamentos à base de cannabis. No longo prazo, talvez os brasileiros se beneficiem com produtos feitos com a cannabis nacional, mas será um contrassenso desperdiçar nosso potencial fundiário, hídrico, climático, tecnológico e humano para obrigar as empresas a plantarem cannabis em instalações de segurança máxima.

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    A liberação do cultivo deve ampliar também o número de ações na Justiça por parte de quem pretende plantar em casa ou em cooperativas. A tese dos que defendem que a autorização se estenda a todos os cidadãos passa pelo direito constitucional à saúde e pelo princípio de que a lei não pode proteger interesses privados ao privilegiar somente pessoas jurídicas. Aos meus olhos leigos, parece fazer sentido. A briga vai ser boa.

    Importação facilitada e medicamentos sem registro

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    Essa seria a opção mais conservadora e frustrante, em que praticamente nada mudaria. Nesta semana, o governo inaugurou uma nova ferramenta online para quem precisa importar medicamentos à base de cannabis, que promete simplificar e tornar mais ágil o processo. Ainda que seja bem-vinda, a iniciativa mantém os produtos sem registro e com importação individual, com análises caso a caso. O número de pacientes pode até aumentar, mas os custos não devem cair. O Brasil continuará sendo um mero importador enquanto vê seus vizinhos aproveitarem a oportunidade para estabelecer uma indústria lucrativa e geradora de postos de trabalho.

    Conclusão

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    Os cenários acima são hipotéticos e minhas avaliações a respeito se baseiam no conhecimento que adquiri em conversas com profissionais do setor e pesquisas sobre o mercado, que realizo desde 2017. Como o Brasil é um país, digamos, sui generis, tudo pode acontecer. Inclusive nada. Dia 8 saberemos.

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