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Valentina de Botas: Recado para a Gleisi

Mire-se no exemplo das brasileiras que prestam, senadora, ou faça greve a senhora

Por Augusto Nunes 8 mar 2017, 14h39

Parece que Gleisi Hoffmann quis mirar-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas da peça “Lisístrata”, em que a personagem que nomeia o texto cômico de Aristófanes as comandou numa greve de sexo até que os maridos, bravos guerreiros de Atenas, pusessem um fim à guerra com Esparta. Esposas e mães a quem jamais era perguntado o que pensavam colocaram-se contra a carnificina, o sofrimento e a miséria que a guerra trazia.

Como mandava a regra, mulheres, sequer consideradas cidadãs naquela Grécia de 2.400 anos atrás, eram proibidas no elenco (e na plateia!), sendo substituídas por homens travestidos. Hoje, as mulheres escrevem, encenam e produzem peças de teatro, pois as coisas mudaram um tantinho. Mas Gleisi não percebeu. Apesar de cômico, o texto de Aristófanes discute com seriedade noções de democracia, patriotismo e cidadania; na comicidade involuntária da patética senadora encarnando uma Lisístrata perturbada, as brasileiras são conclamadas a desrespeitar a lei e a usar o sexo como escambo. Não vou fazer greve nenhuma. 

Abrigada dos riscos da luta cotidiana pela sobrevivência e alheia aos problemas reais para fazer valer os direitos das mulheres porque presa a um feminismo ideológico-oportunista, talvez a senadora tosca não saiba, mas as mulheres já descobrimos a dignidade, o intelecto, a persistência, o trabalho, a independência – recursos mais adequados do que o apelo ao sexo na busca por nossos direitos. As mais atentas até já descobrimos homens maravilhosos que ajudam nessa busca sem precisar “usar saia” (feminilizar-se e outras mistificações que os emasculam), bastando honrar as calças.

Não vou atender à convocação para obstruir estradas porque repudio a seita autoritária que açula a narcísica imposição do direito de cada títere-devoto se sobrepor aos interesses da maioria; não vou porque eu respeito a lei, prática ignorada pela senadora ré. Assim, meu dia 8 de março – uma data fantasia – será similar ao meu cotidiano até o dia 7 e continuado no dia 9: é dia de acordar antes das 6, preparar o café da minha filha e levá-la à escola; trabalhar pelo meu sustento e pelo da pequena – um desafio angustiante no Brasil arruinado pela seita petista –; além de cuidar das tarefas domésticas. Se vai rolar um sexo ou não, não é assunto da Lisístrata obtusa: tire as mãos petistas daí!

Mire-se no exemplo das brasileiras que prestam, senadora, ou faça greve a senhora, pois, quanto menos trabalharem mulheres e homens com tais ideias degeneradas, menor o risco de o país piorar.

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