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Por Coluna
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Valentina de Botas: Em 2018, um ano novo para o Brasil

Torço para que tenhamos aprendido que somente um governante oposto à visão de mundo lulopetista nos devolverá à trilha da civilização

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h38 - Publicado em 23 dez 2017, 07h13

Mesmo não muito a fim de olhar para trás, me rendo ao tradicional balanço do fim do ano. Não que me assombre a maldição da insensata mulher de Ló voltando-se para Sodoma ou a da pobre Eurídice condenada ao Tártaro nesta alegoria delicada da brutalidade das perdas adquiridas, como se a transformação que o tempo impõe a tudo não fosse um jeito de não se ter mais tudo o que se quis. Paisagens vividas ou sonhadas desaparecem do nosso retrovisor e nós também desaparecemos do retrovisor alheio. Portanto, olho para trás; evito, porém, o lugar asfixiante da lamentação.

Sonhamos, investimos no sonho, até o sitiamos só para que ele soubesse que continuávamos na busca. Deu certo? Maravilha, abramos um vinho. Tudo ruiu? Pena, abramos um vinho e celebremos o fato de que nada nem ninguém tira de nós aquela deslumbrante visão do alto alcançada pelo coração que voa rumo ao lugar onde ele pulsa. E estar vivo não é sentir-se livre para buscar o mais impossível que capturou nossa alma, a singularidade que nos aproxima do demasiadamente humano? Não é estar disponível para o que parecia inatingível, para o Mais Alto e o Mais Dentro? Não estar condicionado ao chão? Ainda que percamos as asas e desabemos como Ícaros vencidos, a vida, isso que a gente faz a frio no calor da coisa, sempre vale a pena e não se deve deixar o vinho esperando. E as asas se regeneram.

Não sou dessas pessoas bem-resolvidas e tal que se decidem e seguem em frente em linha reta. Imagine! Além do fato de eu não confiar em gente assim, uma reta é uma tristonha linha que não sonha, segundo Manoel de Barros e a maturidade (cronológica) ainda não me ensinou a não sonhar, ou eu não tentaria ganhar a vida como freelancer (frila); talvez o modo mais incerto neste país desencantado das incertezas. Frila é aquele sonhador cujos clientes desaparecem ao mesmo tempo, deixando-o no modo náufrago-Tom Hanks quando ele se perdeu do Wilson (a bola alter ego do personagem), no mar, na tentativa final de escapar da ilha. Ou florescem ao mesmo tempo; aí a gente entra no modo corra-Lola-corra. Tem o lado bom, sabe?, afinal, poucas coisas não o têm quando conseguimos rir no naufrágio e na loucura – nem sei se rir é o melhor remédio, ou mesmo um remédio, mas é sempre mais divertido e, por favor, o meu é com diversão e sem cebola – e quando a gente sonha sem esquecer a lição de Belchior segundo a qual viver é melhor que sonhar.

Sonho com um Brasil melhor há tempos e faço por ele o possível a uma cidadã comum em sua lavoura arcaica diária para ganhar a vida dignamente entre o náufrago-sem-Wilson e a correria-da-Lola, educar a filha para ser gente, e coisas assim. A redemocratização encontrou um país ávido por se modernizar que desmoronou no pior fenômeno da história da república: o lulopetismo. Por isso também não gosto de governantes carismáticos, prefiro picolés de chuchu, só que mais firmes. É que, na América Latina, o carisma político degenerou em nefastos personalismos: do peronismo ao chavismo, do getulismo ao lulopetismo; uma metafísica autoritária e primitiva que submete instituições e leis a homens.

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O impeachment da mulherzinha interrompeu a desgraça cuja mistura de corrupção e incompetência nos custou uma grana preta, mas prejuízo ainda maior foram: 1) a desinstitucionalização do país – resultante da louvação personalista a um caudilho ignorante que anestesiou a vigilância da sociedade sobre os governos petistas e que aprofundou o aparelhamento do Estado (iniciado antes da eleição do PT à presidência) –, dificultando o processo de impeachment (as fraudes de Barroso e de Lewandowski, por exemplo) e a estabilidade do governo sucessor compromissado com reformas que contrariam as guildas que privatizaram o Estado; 2) o assalto ao nosso futuro. Desse solo tóxico, brotou um procurador-geral da república tuiuiú (pesquisem) que decidiu que Temer tinha de ser deposto porque sim, oras.

Olha, a mala do Rocha Loures era uma só e liga o ex-deputado a ela, mas não caracteriza o crime que a narrativa fictícia de Joesley imputava a Temer porque, para isso, seriam necessários milhares de malas semanais para levar, por décadas, os mais de 400 milhões que a JBS pagaria a Temer por favores concedidos nos 30 anos seguintes (fora da presidência e, provavelmente, morto!). É nesse sentido que o delegado-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, afirmou que uma mala é insuficiente para configurar a materialidade do crime imputado a Temer, ainda que seja suficiente para complicar Loures. Que Janot monitorasse Loures por uma sequência de 2 ou 3 meses – mas será que haveria mesmo uma sequência de malas?

Segóvia nem disse que uma mala não provava nada e nem se referiu a Loures, entretanto a má vontade dos 5% da imprensa que respeito e a má-fé dos outros 95% que desprezo dedicadas ao governo Temer aplainam a análise, brutalizam o pensamento e deformam o relato dos fatos. Outra flor do mesmo mal é a interpretação da frase “Tem de manter isso aí, viu?”. Impressionante que, mesmo dita antes, repito: antes, de Joesley aludir genericamente a uma ajuda a Cunha (ouçam a gravação inteira, mas não com os ouvidos psolistas de Barroso), até hoje seja tomada como o que fora anunciado sem sê-lo. Brasil em transe.

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Dramaticamente necessária não apenas porque o boi ficou maior do que o carrapato, mas também porque sedimenta o caminho da recuperação econômica, a reforma da previdência foi adiada. Com esse adiamento e a aprovação da reforma previdenciária na Argentina, me lembrei das palavras de Roberto Campos: “Brasil e Argentina parecem dois bêbados cambaleantes a cabecear nos postes. Só que, enquanto a Argentina parece estar a caminho da economia de mercado, o Brasil parece estar de volta ao bar”. Entre os que combatem a reforma, a previsível “privilegiatura” do funcionalismo público, mas também alguns tucanos, renegando uma bandeira histórica do PSDB, e certos políticos que se dizem liberais e/ou de direita, quando são apenas medíocres oportunistas estatistas com glacê liberal eleitoreiro.

Esses mesmos políticos se valem do discurso fascistoide lulopetista, com o sinal trocado, para a clivagem artificial entre “nós” e “eles”, investindo mais no esgarçamento da tolerância, na automistificação e na perpetuação do FLAxFLU beligerante do que no cerzimento da sobriedade. Em nome de um ambiente mesmo intoxicado, é tolice ofender políticos no cinema, em hospitais(!), restaurantes, aviões, fora dos espaços institucionais; e lamento que alguns analistas encorajem isso, fazendo de sua tribuna um palanque igual ao petista. Indignação pode ser civilizada e sua expressão não precisa nos igualar àquilo que a desperta.

Feliz Natal aos leitores da coluna e ao colunista, o generoso democrata que acolhe meus textos desgalhados e a expressão civilizada de divergências (Augusto Nunes pensa sobre Barroso o que penso sobre Gilmar e sobre este o que penso sobre aquele, discordância mutuamente respeitada), unindo ação e discurso em homenagem ao convívio dos contrários. Acho que 2018 tem tudo para ser o ano novo entre os últimos 10 anos e torço para que tenhamos aprendido que somente um governante oposto à visão de mundo lulopetista  nos devolverá à trilha da civilização.

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Agradeço ao presidente Temer que, superando circunstâncias graves de conspirata e deslealdades, a tibieza de aliados e a resistência desinteligente de quem queria o pior, conseguiu estabelecer a sanidade na condução do país depois do surto demencial lulopetista. Felizmente, o vice da mulherzinha é político habilidoso, ponderado, cordato e democrata, fala português e encoraja os brasileiros à civilidade, rejeitando a cizânia. Poucos concordam com o que digo aqui, mas não sou nem quero ser porta-voz de ninguém; talvez falar mal do governo impopular faça as pessoas parecerem mais inteligentes e alguns leitores enxerguem no texto o que não penso: que o Brasil é um paraíso e que o presidente é perfeito. Ora, não me preocupa parecer inteligente; no paraíso não há náufrago e uma Lola correndo de repente para lugar nenhum; tampouco sou do tipo que espera o presidente-encantado que despertará a nação para o futuro. Lido com o que tenho, sonho com o que desejo. Sonho há tempos com um Brasil melhor. Assim, obrigada, presidente, um novo ano em 2018 para todos nós. Beijo na Marcela e no Michelzinho.

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