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Romero Jucá, o fazendeiro do ar escondido no Senado, escapou da cadeia outra vez

Transferido do Senado para a Esplanada dos Ministérios no começo de 2005, Romero Jucá caprichou na primeira aparição como ministro da Previdência do governo Lula. Horas antes, apresentara ao presidente o conjunto de medidas concebidas para fechar de vez o rombo da Previdência Social. O chefe gostou do que ouviu e cumprimentou Jucá por tamanha […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 17h38 - Publicado em 14 Maio 2009, 21h05
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  • Jucá está onde sempre esteve: a favor de quem governa

    Jucá está onde sempre esteve: a favor do governo

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    Transferido do Senado para a Esplanada dos Ministérios no começo de 2005, Romero Jucá caprichou na primeira aparição como ministro da Previdência do governo Lula. Horas antes, apresentara ao presidente o conjunto de medidas concebidas para fechar de vez o rombo da Previdência Social. O chefe gostou do que ouviu e cumprimentou Jucá por tamanha rapidez no gatilho. Entusiasmado, o benfeitor dos aposentados foi contar vantagens para a plateia de jornalistas.

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    “Em dois anos, o déficit já sofrerá uma redução de 40%”, começou. “Vamos fechar o cerco a todos que têm contas a ajustar”,  recitou em seguida o pernambucano do Recife promovido pelo eleitorado a filho adotivo de Roraima. “Mas desta vez a ofensiva começará pelos grandes devedores”. Excelente idéia, teriam aplaudido os brasileiros rasil se não soubesse que Romero Jucá Filho é, além de ministro, o sócio mais antigo do clube dos devedores do Banco da Amazônia, o Basa.

    Quem deve tem de pagar ou provar que a cobrança é improcedente. Antes disso, nenhum devedor pode assumir o papel de cobrador, certo? Alheio a essas obviedades, Jucá convocou uma segunda entrevista coletiva para comemorar a fantasiosa redução de R bilhão no rombo da Previdência. A festa acabou antes de começar: os jornalistas estavam muito mais interessados nas zonas de sombras que envolviam, e continuam envolvendo, um empréstimo concedido pelo Basa, em 1996, a uma empresa chamada Frangonorte.

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    Adquirida por Jucá em parceria com o amigo Getúlio Cruz, ex-governador de Roraima, a Frangonorte  já estava em situação falimentar quando conseguiu que a direção do Basa a presenteasse com R$ 3,152 milhões (mais de R$ 10 milhões, em valores atuais). Segundo o banco, a transação só se consumou porque o senador Jucá ofereceu garantias consideradas satisfatórias. Entre elas estavam sete fazendas pertencentes ao candidato a avicultor.

    Apenas a assinatura no documento pertence a Jucá, descobriu-se logo. Os latifúndios na selva só existiam na imaginação do fazendeiro do ar. Assustado com as dimensões da tunga, o Basa recorreu à Justiça para abrandar o prejuízo com os bens da Frangonorte. “Não havia um único frango vivo”, espantou-se um dos fiscais. Jucá já esvaziara a sala de diretor para salvar alguns pertences e a própria pele. Em 2005, convidado a explicar-se durante a entrevista, o enganador repreendeu o enganado: o banco deveria ter conferido com mais cuidado o que estava no papel, ensinou.

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    Jucá só ficou quatro meses no cargo a que chegou por indicação do presidente do Senado, Renan Calheiros. Lula gostou da folha corrida do amigo do amigo. Nascido em 1954, Jucá começou a servir a pátria em 1986, quando se tornou presidente da FUNAI no governo José Sarney. Promovido dois anos mais tarde a governador de Roraima, ajudou o território a transformar-se o Estado que o ajudou a transformar-se em cacique.

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    Entendeu-se bem com o presidente Fernando Collor, com o presidente Itamar Franco e com o presidente Fernando Henrique. Em 1994, no segundo ano como senador, tornou-se líder da bancada do governo FHC. Reeleito em 2002, hoje é líder da bancada do governo. Mudaram os governantes, Jucá não mudou: ele sempre está a favor de quem governa. E se entende muito bem com Lula.

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    “Nunca pedi nada, só a modernização do aeroporto de Roraima”, deu de fantasiar Jucá neste maio, amuado com a degola na Infraero que deixou desempregados um irmão e uma cunhada. Deve ter esquecido o que pediu (e nunca pagou) em 1996. As ações judiciais dormiram até julho do ano passado, quando o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, denunciou Jucá ao Supremo Tribunal Federal por crimes contra o sistema financeiro.

    O processo nem começou. Em 3 de dezembro, por solicitação do Ministério Público Federal, o ministro Cezar Peluso arquivou o “inquérito (Inq. 2.221) contra o Senador Romero Jucá (PMDB-RR) acusado de fraude envolvendo a empresa Frangonorte, em razão da prescrição do crime”. Livre da ameaça de saldar a conta do calote e dormir na cadeia por 2 a 6 anos, Jucá festejou o Natal e o reveillon em paz. O Banco da Amazônia não verá a cor do dinheiro. Simples assim. É o Brasil.

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