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Por Coluna
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O labirinto brasileiro e o longo 2018

Sempre que o governo brasileiro se vê acuado por uma força que lhe confere a sensação de ameaça e emergência, volta-se ao centro de uma armadilha

Por Marcos Troyjo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h26 - Publicado em 2 jun 2018, 23h52

Marcos Troyjo

O historiador britânico Eric Hobsbawn é autor de uma conhecida formulação que diferencia como se deve contar o tempo.

Uma maneira, claro, é classificar por mensuração cronológica. Aqui, um século equivale a cem anos. Outra é caracterizar um período não pelo critério quantitativo, mas pela identidade do “espírito do tempo” que marca uma certa época.

Assim, o século 19 teria começado em 1789, com o advento da Revolução Francesa, e só acabou em 1914, com o eclodir da Primeira Guerra Mundial. Foi, portanto, um “longo século”.

Já o século 20, por seu turno, teria terminado em 1991, com o desmantelamento da União Soviética. Daí o famoso título de uma de suas obras “Era dos Extremos: o Breve Século 20”.

Michel Temer, atingido há um ano pelas revelações do “JBSgate”, o que lhe congelou a iniciativa, e tendo optado pela intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro como bandeira, abriu mão de uma agenda mais reformista no tempo que lhe restava na Presidência.

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Nestes últimos meses parecíamos, portanto, caminhar para um “breve 2018”. Inflação sob controle, taxas de juros caindo, governança mais bem administrada das estatais, alguma reforma trabalhista e o estabelecimento de teto para desembolsos do governo.

Ainda que não se trate de agenda que pudesse conduzir Temer a uma imaginada reeleição, ou mesmo turbinar a candidatura de Henrique Meirelles ao Planalto, o conjunto acima mostrou-se suficiente para distanciar o país do abismo. E, assim, colocá-lo numa espécie de inércia até as eleições de outubro.

O “breve 2018” teria já acabado — e 2019 começaria tão logo se conhecesse o resultado das urnas presidenciais.

O ano de 2018, porém, recusa-se a acabar antes do tempo. A greve dos caminhoneiros arremessou o país de volta a um ciclo de acontecimentos de 24 horas em que o inimaginável se converte em possível.

Quem poderia supor que após a série de aulas-magnas dos governos Lula-Dilma sobre os efeitos do intervencionismo na Petrobras mais uma vez nos veríamos abraçados a populismo tarifário ou concessão indevida de subsídios e proteção?

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A queda no valor de mercado das ações da Petrobras e o correlato tombo dos índices da Bovespa evidenciam que, se por um lado não estamos na iminência de uma “tempestade perfeita” como nos estertores do governo Dilma, tampouco permanece a trégua entre o Brasil e os mercados. Instala-se agora, na evolução da perspectiva que se tem do país no exterior, uma nova etapa.

Em 2002, com saúde fiscal deteriorada e a possibilidade da eleição de Lula, o risco-país brasileiro atingira 2.500 pontos e o sentimento dominante era a “Brasil-fobia”. Em 2011, após uma expansão do PIB no ano anterior de 7,6%, a sensação era a de “Brasil-mania”. Tivemos, a partir de 2014 uma fase de “Brasil-naúsea”, com as revelações trazidas à tona pela Operação Lava Jato.

Agora, parece que o modelo dominante nas análises externas é o do “Brasil-labirinto”. É a ideia de que, sempre quando o governo brasileiro se vê acuado por uma força que lhe confere a sensação de ameaça e emergência, volta-se ao centro de uma armadilha de que é crescentemente difícil escapar.

A versão mais crítica da análise do tipo “Brasil-labirinto” é a que aponta essa predisposição a ceder a pressões não como algo pontual ou característico deste ou daquele governo a tocar o país, mas como algo estrutural ao próprio ecossistema político brasileiro das últimas décadas.

Em tal hipótese, quando em 2019 o jogo supostamente recomeçar, mesmo um novo governo com apetite reformista e pró-mercado afrouxaria em sua determinação modernizante de modo a permitir “governabilidade” ou o “evitamento do pior”.

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Se este for o caso, não sairemos do “Brasil-labirinto” tão cedo. E o ano de 2018, que parecia tão curto, não terá prazo para acabar.

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