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Augusto Nunes

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“Livrai-nos dos amigos” e outras notas de Carlos Brickmann

Bolsonaro teve a sorte de encontrar, na liderança dos partidos de oposição, pesos-leves como Gleisi e Haddad. Desses inimigos ele se livra, e com facilidade

Por Carlos Brickmann
Atualizado em 4 jun 2024, 16h17 - Publicado em 8 Maio 2019, 07h16
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  • Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

    Diziam do PSDB que era um partido de amigos formado integralmente por inimigos. O bolsonarismo transforma o clima de abraço com punhal nas costas, até então exclusivamente tucano, numa festa infantil: entre adeptos do presidente, o debate já começa pela troca de insultos de baixo calão, sem que se saiba sequer o motivo da briga. Inimigos? Bobagem: Bolsonaro teve a sorte de encontrar, na liderança dos partidos de oposição, pesos-leves como Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad. Desses inimigos ele se livra, e com facilidade. Difícil é livrar-se dos amigos, muito mais perigosos.

    Nem o mais crédulo dos bolsonaristas poderá acreditar que os ataques que seu filho Carlos 02 desfecha contra aliados não tenham apoio do presidente. Seria humilhante imaginar que um presidente da República, com formação militar, aceite ser comandado por seus filhos. É ele, sem dúvida, o pai dos ataques. Por que faria isso? Ótima pergunta: ganha uma viagem à Venezuela quem souber respondê-la. Talvez ─ e isso é palpite, não informação ─ queira desarticular o Governo para, à maneira de Jânio, voltar nos braços do povo. Jânio, que era um gênio político, falhou. Bolsonaro não é um gênio político.

    Os palavrões dirigidos por um aliado, a quem acaba de condecorar, aos militares de seu Governo, atingem não uma pessoa, mas uma instituição. E, se for verdade que todos são traidores, quem terá sido o incompetente que os escolheu? Poucas atividades são tão perigosas quanto brincar com fogo.

     

    Lembrando Trotsky

    O general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, assessor do Gabinete de Segurança Institucional, chamou o escritor Olavo de Carvalho, que tem atacado vários militares do Governo, de “Trotsky de direita”. Lev Davidovitch Bronstein, “Trotsky”, foi, ao lado de Lênin, um dos líderes da revolução comunista russa, e organizou o Exército Vermelho. Quando Lênin morreu, Trotsky perdeu a batalha pela sucessão para Stalin. Foi perseguido mundo afora e finalmente assassinado no México em 1940. Stalin não se importava com o papel de Trotsky na revolução: acusava-o de ser traidor “desde 1917”, ano da derrubada da monarquia russa.

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    Trotsky de direita ─ neste Governo, ninguém muda de posição, ninguém discorda: todos os atacados “sempre” foram traidores. Há ainda uma inversão de papéis, já que o Trostsky de direita persegue antes de ser perseguido. Mas é sempre útil lembrar um pouco de História.

     

    Governo tem povo…

    O curioso é que essas brigas internas do Governo acontecem numa hora em que as coisas vão razoavelmente bem. A reforma da Previdência passará, o prestígio de Bolsonaro se desgastou da posse para cá, mas seu apoio ainda é grande ─ de acordo com a Paraná Pesquisas, 53,1% da população acham que o país está no caminho certo, e 41,4% creem que está no caminho errado. Os bons números se repetem em todas as faixas de idade (exceto a de 16 a 24 anos), em todas as regiões do país (no Nordeste, a vantagem é menor: 49,3% a favor, 46,5% contra), em todas as faixas de escolaridade.

     

    …e apoio empresarial

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    Na pesquisa do banco BTG/Pactual: entre empresários e executivos, 59% avaliam o Governo como ótimo ou bom, e 10% como ruim ou péssimo.

     

    Por que?

    Mesmo em condições favoráveis, Bolsonaro&Filhos criam problemas com generais. Não é coisa boa: civis devem mandar, mas xingar é muito feio.

     

    Mexendo nas peças

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    O senador Fernando Bezerra, do MDB pernambucano, relator da Medida Provisória da reforma administrativa, quer que haja mais ministérios: a pasta de Desenvolvimento Regional deve virar duas, Cidades e Integração. E o presidente Bolsonaro já concordou, em nome da aprovação da MP. Para que o número de Ministérios não supere os atuais 22, uma saída bem brasileira: o Banco Central ganha autonomia, e seu presidente deixa de ser ministro. Só falta convencer os parlamentares, mas prevê-se vitória apertada do Governo.

     

    Custo da Previdência

    O Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID, informa que o Brasil é o país que mais gasta com Previdência na América Latina: 12,5% do PIB. Em 2065, se não houver reforma, o custo deve chegar a 50,1% do PIB. É mais do que estará disponível para todas as despesas do Governo.

     

    A aposta do Posto

    O ministro da Economia, Paulo Guedes, declara-se otimista: acredita que o Brasil volta a crescer a partir de julho. O otimismo é maior do que parece: acredita que até julho as reformas estarão aprovadas. “Assim que forem aprovadas as reformas, o Brasil retomará o desenvolvimento”. A fase hoje é de desaceleração econômica, com aumento do desemprego. Diz Guedes que não há novidade na desaceleração: “o Brasil está prisioneiro de uma armadilha de baixo crescimento, e nós vamos escapar dela com as reformas”.

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