SYLVIO DO AMARAL ROCHA
Embora esteja diminuindo progressivamente, a mortalidade infantil no Brasil ainda esbarra em aterradores 19,6 óbitos para cada mil nascidos vivos. No Chile, o índice não ultrapassa 7 mortes para cada mil nascidos e, na Islândia, o número é inferior a 2.
O que ainda é ruim foi muito pior, prova o documentário A invenção da infância, de Liliana Sulzbach, lançado em 2000 ─ ano em que a taxa de mortalidade no país era de 30,10 crianças por mil nascidos. Ao contrapor a vida em São Paulo à do interior da Bahia, o filme reaviva uma bem-vinda discussão sobre como será a infância desses quase 970 sobreviventes.
Realidades aparentemente diferentes, nas quais o trabalho duro de gente quebrando pedras ou colhendo sisal é confrontado com a agenda plena de atividades na capital paulista, somam-se para mostrar que a vida das nossas crianças está cada vez mais próxima da vida adulta. Tudo isso numa época em que as brincadeiras lúdicas, a imaginação criativa e deliciosas singelezas como subir numa árvore não haviam sido trocadas por videogames, redes sociais e jogos de computador.
Com uma narração em off claramente influenciada pelo clássico documentário Ilha das Flores, de Jorge Furtado, lançado em 1989, o filme de Liliana começa com o surgimento do conceito de infância, na época do Renascimento. A parte documental, recheada de entrevistas, mostra como vivem os pequenos brasileiros do começo do século XXI. Delicado, sensível, o vídeo pode ser resumido por uma de suas frases mais marcantes: “Ser criança não significa ter infância”.