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Especial VEJA: Assis Brasil, o chefe sem chefiados

Publicado na edição impressa de VEJA AUGUSTO NUNES Na noite de 30 de março de 1964, o chefe da Casa Militar, Argemiro de Assis Brasil, hasteou-se na porta da sala do Palácio Laranjeiras e, com a severidade da expressão acentuada pela farda de general de brigada, interrompeu a conversa entre João Goulart e Tancredo Neves, […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h04 - Publicado em 9 abr 2014, 08h47
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    general-Assis-Brasil-e-Jango

    Assis Brasil (à esq.) acompanha a entrevista de João Goulart

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    AUGUSTO NUNES

    Na noite de 30 de março de 1964, o chefe da Casa Militar, Argemiro de Assis Brasil, hasteou-se na porta da sala do Palácio Laranjeiras e, com a severidade da expressão acentuada pela farda de general de brigada, interrompeu a conversa entre João Goulart e Tancredo Neves, líder do governo na Câmara dos Deputados. “Presidente, tudo pronto, o esquema já entrou em execução”, comunicou. Fazia duas horas que Tancredo estava lá para demover Goulart da ideia de alta periculosidade: comparecer à reunião promovida no Automóvel Clube por sargentos e suboficiais sublevados. Com apenas nove palavras, Assis Brasil convenceu o dubitativo de nascença a dar o assunto por encerrado e partir para o cenário do seu último discurso antes da queda.

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    É provável que Jango tenha deduzido que um recado em código fora embutido na segunda parte da frase: “o esquema já entrou em execução”. Isso significava que já estavam de prontidão, ou em ação nas frentes de batalha, todos os integrantes do “dispositivo militar”, codinome de uma formidável rede de conexões clandestinas que interligavam milhares de combatentes dispostos a matar ou morrer pelas reformas de base. Entre 17 de outubro de 1963 e 31 de março de 1964, tanto os “generais do povo” festejados pelos partidários do governo quanto conspiradores que haviam tentado derrubar a direção do berçário na primeira troca de fraldas enxergaram nitidamente o exército invisível: aos 56 anos, aquele gaúcho de São Gabriel conseguira forjar um colosso que abrangia marechais e estafetas, almirantes e grumetes, brigadeiros e aviadores sem milhagem, além de uma demasia de civis com trabucos escondidos num armário.

    “O dispositivo militar, que dizem que eu montei, nunca existiu”, confessou Assis Brasil só em 1980. Jango e os demais acampados no Palácio Laranjeiras souberam disso dezesseis anos antes, no momento em que chegou de Minas a primeira notícia inquietante. Em vez de levar a mão ao gatilho, o chefe sem chefiados sacou um telefone ─ não para desencadear a contraofensiva tremenda, mas para perguntar a oficiais menos desinformados o que estava acontecendo. Em 1º de abril, o general sem tropas foi para Brasília, onde já estava o presidente sem poder. Dali voaram juntos para Porto Alegre e depois para uma estância na fronteira com o Uruguai. No dia 4, dividiram um ensopadinho de charque com mandioca preparado por Jango. Horas depois foram para o Uruguai, e ali Assis Brasil concluiu que chegara a hora da separação: “Presidente, vou voltar para o Brasil porque minha missão está cumprida”. A capitulação sem luta não abrandou o ódio dos vitoriosos. Assis Brasil perdeu para sempre a patente e a pensão. Mas nunca perdeu o gosto pelo cultivo de fantasias. “O Exército precisa pagar a dívida que tem comigo”, insistiu pouco antes da morte, em 1982. “Tenho direito ao posto de general de divisão.”

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