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Augusto Nunes

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Duas notas de Carlos Brickmann

PUBLICADO NA COLUNA DE CARLOS BRICKMANN CADA UM POR SI Este colunista anda um pouco desiludido de CPIs, cada vez mais um espetáculo de TV, cada vez menos uma investigação completa sobre um problema específico. Mas há CPIs que são essenciais ─ e, quem sabe, com um pouco de pressão dos meios de comunicação, a […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 08h06 - Publicado em 19 ago 2012, 16h19
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  • PUBLICADO NA COLUNA DE CARLOS BRICKMANN

    CADA UM POR SI

    Este colunista anda um pouco desiludido de CPIs, cada vez mais um espetáculo de TV, cada vez menos uma investigação completa sobre um problema específico. Mas há CPIs que são essenciais ─ e, quem sabe, com um pouco de pressão dos meios de comunicação, a investigação não acaba andando?

    Pois a proposta de CPI do petebista gaúcho Ronaldo Nogueira está atingindo o número necessário para investigar a telefonia celular no país. Cá entre nós, vamos falar sério: depois que a Anatel permitiu a volta às vendas das empresas que tinham sido punidas, assim que, em menos de duas semanas, elaboraram e apresentaram planos de investimentos de mais de 20 bilhões de reais, ficou claro que alguém de fora tem de ver o que está acontecendo. Ninguém decide, em menos de um mês, investir algo como dez bilhões de dólares. Se os projetos foram apresentados, é porque não valem nem o papel em que foram impressos.

    Mas é preciso ir fundo: investigar não apenas Claro, Tim e Oi, mas também a Vivo, também a Nextel, todas as empresas que vendem comunicação e a entregam mal e porcamente. E não limitar as investigações apenas à telefonia celular, mas a toda a gama de serviços destas empresas ─ inclusive a banda larga de Internet. Qualquer internauta sabe quando está um brasileiro do outro lado: seu “ping”, medida de banda, é sempre um dos piores. Vamos continuar assim?

    Na semana passada, esta coluna citou um caso do Interior paulista, em que uma advogada lavrou Boletim de Ocorrência a respeito dos serviços da Nextel. Logo depois, este colunista, cliente da Vivo (que antigamente se chamava Speedy, da Telefônica), teve a banda larga desligada por 32 horas seguidas. A atendente primeiro mandou que fizéssemos aquelas manobras de praxe, para ver se a Internet voltava; deu aquele gigantesco número de protocolo, para o caso, sempre provável, de queda da ligação; e, depois de muito tempo, acabou informando que o blecaute da banda larga atingia toda a região. Ou seja, mesmo que um robô ficasse ligando e desligando o modem, o serviço não voltaria.

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    Protestos? A atendente nos explicou que era terceirizada, e se quiséssemos reclamar não seria com ela. No fim, um pedido de socorro à assessoria de Imprensa da Vivo-Speedy-Telefonica fez com que enviassem um técnico, que apurou que havia um problema num poste e o corrigiu. Em resumo, o cliente que se dane e espere até que haja disposição de prestar o serviço. E, se não for jornalista, que espere a vez e não chateie a atendente, que ela não está lá para isso. Um cliente que não tem acesso à assessoria de imprensa postou no Facebook sua reclamação: em um mês, 18 dias sem sinal de Internet. O produto pode ser Vivo, mas a banda larga está morta a maior parte do tempo.

    Qual o custo, para o país, dos maus serviços de banda larga? Qual o custo, para o cliente, de pagar uma determinada banda e saber que, por contrato, a empresa pode fornecer apenas 10% do que é pago? Qual o custo, para todos, se festejar quando se consegue alcançar os 10%, porque às vezes não vem nada?

    CPI, pois. Se não resolver, pelo menos chateia alguns executivos dessas empresas, obrigados a ir a Brasília, a assistir a reuniões, a ler papéis, a ouvir reclamações ─ e, pior do que tudo, quando quiserem conversar com família e amigos, serem obrigados a usar o mesmo serviço ruim que oferecem aos clientes!

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    Uma dúvida: se é para ter serviços ruins, se é para as empresas investirem pouco e ganharem muito, por que aceitar a desnacionalização dos serviços? Pior que o deles nenhuma empresa nacional é capaz de fazer; e, no fim das contas, pelo menos não há remessa de lucros para o Exterior, só justificável quando o que os estrangeiros oferecem é melhor do que os brasileiros são capazes de oferecer.

    Outra dúvida: se é para não conseguir se comunicar, por que não voltar ao velho sistema de cada um por si e cartas ou telegramas quando houver necessidade de comunicação? Pouca coisa é mais frustrante do que ter um computador moderno, ou um telefone cheio de recursos, com uma banda larga dessas que existem por aqui.

    USO E ABUSO

    Veja que delícia (grafia original): “Tah na aula e precisa falar com um amigo? Manda um SMS pra ele! Soh cuidado pro professor não pegar você :)”.

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    Esta é uma propaganda da TIM em mensagem de texto para quem está na aula (e, cá entre nós, traz uma clara insinuação de cola). Em vez de assistir à aula, fique batendo papo via torpedos com seus amigos. Em vez de estudar, por que não pedir a amigos que estão fora da classe que lhe mandem as respostas corretas?

    A TIM deu uma explicação padrão Brasília: “não é favorável ao uso de celular na sala de aula”, “o problema foi pontual e não se repetirá”, “houve um equívoco no processo de criação e envio da comunicação”.

    Houve mais de um equívoco, não é mesmo? O primeiro é que os meios de comunicação, talvez hipnotizados pela massa de publicidade das operadoras de celulares, são bonzinhos e tolerantes com quem cuida mal de seus clientes. O segundo é que quem deveria fiscalizar brinca de acreditar que planos de investimentos de bilhões de dólares são decididos de um dia para outro e que uma empresa multinacional deixa qualquer um decidir qual será sua linha de propaganda.

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