Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
A reforma da Previdência, assunto essencial, está no Congresso. Outra reforma com alto potencial de controvérsia está para ser enviada: a que devolve ao Congresso sua missão básica de determinar o Orçamento, dando fim às porcentagens obrigatórias para Educação, Saúde, etc. O Ministério Público desistiu de criar uma fundação para lutar contra a corrupção, com verbas recuperadas após investigações. Um pacote anticrime, proposto por Sergio Moro, está pronto para exame pelos parlamentares. Para o bem ou para o mal, são propostas que modificam muito a estrutura do país.
E estamos discutindo tuites e fake news que, seja a razão de quem for, fazem tanta diferença quanto o resultado de um jogo sub-15. É triste.
Ou não: um leitor desta coluna, advogado e ex-ministro, lembra que, por menos relevantes que sejam esses temas, pelo menos não discutimos hoje alguns bilhões de reais em propinas, nem somos surpreendidos porque um diretor de estatal devolveu R$ 90 milhões ─ que tinha na conta! ─ para se livrar da prisão fechada. As notícias de hoje são sobre indecências no Carnaval ou declarações atribuídas a uma repórter que estaria se esforçando para que suas descobertas derrubem o presidente. Coisa mais micha!
O comportamento é ilegal? Cabe à Justiça decidir. A discussão é boba? É. Mas os temas são menos escandalosos que construir uma refinaria como Hugo Chávez mandou sem ele botar um centavo na obra. Esta coluna quer esquecê-los. Mas admite que é melhor discutir besteira do que ladroeira.
Passagem rápida
Discussões sobre um episódio do Carnaval e uma entrevista a um site francês, que nega ter feito a entrevista, são chatas demais. Não deve ser impossível que governistas defendam o projeto de reforma da Previdência e oposicionistas mostrem suas falhas. É melhor até para ler a notícia!
Os lucros do assassínio
Dois presos são apontados como assassinos de Marielle. Cessa com isso a choradeira de que o Governo não queria esclarecer o crime? Não: para os radicais que dividem o mundo entre nós e eles, o assassínio continua sendo culpa de Bolsonaro ─ embora as prisões tenham ocorrido em seu Governo, embora ele tenha dito que é preciso chegar aos mandantes. Sergio Moro é criticado por não ter dito nada sobre as prisões ─ embora tenha emitido nota oficial sobre o tema. Ô, gente chata! Será que só pensa em lucro político?
Os ausentes
Há quase 50 anos, 1972, Tom Jobim já falava nas “águas de março fechando o verão”. Mas o prefeito da maior cidade brasileira, Bruno Covas, escolheu justo esta época para tirar férias na Europa. A tragédia atingiu São Paulo e alcançou Covas, obrigado a trabalhar na época de trabalho! Mas ele não está só. O Congresso começa a discutir a reforma da Previdência; o projeto anticorrupção também será debatido; o superministro Paulo Guedes anuncia uma mudança na estrutura do país, eliminando gastos obrigatórios e liberando os parlamentares para definir despesas e investimentos. É bem nessa hora que o articulador político do Governo, Onyx Lorenzoni, decide fazer um passeio à Antártida. Entre uma fria e outra, escolheu a fria errada.
Rico…
A Assembleia do Mato Grosso do Sul aprovou e o governador Reinaldo Azambuja, do PSDB, sancionou: a partir de agora, e com efeito retroativo a 1º de fevereiro, os salários do Tribunal de Contas do Estado podem ser aumentados em até 90%. Quase dobram. Quem decide os beneficiários é o presidente do TCE ─ sim, o próprio. Previsão de gastos? Não foi divulgada. Afinal, quem é rico de verdade não precisa perguntar o preço de nada.
…ri…
O Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul tem uma lista com uns 90 juízes e desembargadores que ganham bem acima do teto constitucional de R$ 39,2 mil. O salário mais baixo da lista é de R$ 64.812,58. O mais alto atinge R$ 135.576,90 ─ pouco mais que o triplo dos vencimentos de um ministro do Supremo, que deveria ser o servidor público mais bem pago. Ainda bem que o agronegócio anda próspero e paga as contas do Estado.
…à toa
E, completando o quadro, o governador Reinaldo Azambuja nomeou 27 comissionados (cargos de confiança) com salários que começam na faixa de R$ 28 mil. Cinco superam o teto, e deles o mais bem pago recebe R$ 92.985,55 mensais. O Estado é generoso e ninguém regula merreca.
Ninguém é de ferro
Indignado, caro leitor? Então, mais uma: o famoso Carnaval baiano, de longa duração, é para os fracos. A Câmara dos Deputados reiniciou ontem o trabalho, após 13 dias de Carnaval, com reuniões de bancadas estaduais. Resta uma dúvida: se o Carnaval de três dias era Tríduo Momesco, como será apelidado o de 13 dias? Teremos de chamá-lo de Trezena Momesca?