Depois de pintar de vermelho as ruas da capital, Fernando Haddad decidiu grafitar um patrimônio histórico de São Paulo
BRANCA NUNES Não satisfeito em tingir de vermelho as ruas da capital paulista com o milagre da multiplicação das ciclofaixas (ao custo de inacreditáveis R$ 650 mil por quilômetro), Fernando Haddad teve outra ideia que pode reduzir ainda mais o seu raquítico índice de aprovação. Neste mês, o prefeito de São Paulo liberou para grafites […]
BRANCA NUNES
Não satisfeito em tingir de vermelho as ruas da capital paulista com o milagre da multiplicação das ciclofaixas (ao custo de inacreditáveis R$ 650 mil por quilômetro), Fernando Haddad teve outra ideia que pode reduzir ainda mais o seu raquítico índice de aprovação. Neste mês, o prefeito de São Paulo liberou para grafites os chamados Arcos do Jânio, um patrimônio histórico municipal prestes a completar um século de existência.
Construídos na década de 1920, os arcos ficaram parcialmente encobertos durante quase 60 anos por cortiços erguidos no entorno. Na década de 1980, o então prefeito Jânio Quadros derrubou os casebres e a cidade redescobriu a relóquia.
Embora desde 2002 a lei determine que os arcos devam ser “integralmente preservados”, o próprio Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) autorizou a intervenção: “Tendo em vista a reversibilidade da ação proposta no bem tombado, e também sua restrição a ser executado apenas entre os vãos dos arcos, e não na área dos tijolos aparentes, não temos nada a opor a esta proposta”, informou em nota. Apesar disso, Nadia Somekh, presidente do Conpresp, afirmou numa entrevista à Folha que “o órgão não fez uma análise estrutural nas paredes”.
Num e-mail divulgado pelo blog do Edison Veiga, o arquiteto Benedito Lima de Toledo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), faz ponderações relevantes. Depois de observar que “esses arcos são testemunho da arte da construção em tijolo, característico de um momento da história das construções da cidade”, Lima de Toledo pergunta: “Tratando-se de obra pública, a população foi consultada? Tratando-se de ‘arte plástica’, em espaço público, houve concurso para escolha do projeto? A qualquer cidadão que tenha eleito a pintura como sua ocupação, cabe a prerrogativa de escolher livremente o local para exercer seu talento? Torna-se igualmente grave autoridades se arvorarem em críticos de arte, com tanta obra pública à espera de quem as execute”.
Haddad qualificou de “conservadores” aqueles que não aprovavam o projeto e decretou que os críticos “serão convencidos que o grafite é uma realidade favorável a São Paulo”. Diante disso, a coluna quer saber se o prefeito acha que uma boa dose de spray tornaria mais modernos e mais belos os monumentos contemplados abaixo.