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Deonísio da Silva: Nós que aqui estamos por vós esperamos

O certo é que seria de todo salutar que não fôssemos presididos por um presidente morto-vivo ou morto e vivo

Por Augusto Nunes Atualizado em 29 out 2017, 11h22 - Publicado em 29 out 2017, 11h22

Para todos os vivos, vale a inscrição do cemitério de Paraibuna (SP): “Nós que aqui estamos por vós esperamos”. Ou o da Capela dos Ossos, em Évora, Portugal: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”.

Os mortos sempre mereceram o respeito dos vivos (daí o escândalo da profanação de túmulos, lugares tidos por sagrados), que infelizmente pouco respeitam uns aos outros. Os portugueses exterminaram cerca de 80.000 índios caetés por eles terem comido o primeiro bispo do Brasil. Só que os silvícolas o fizeram por motivos rituais, e os portugueses por vingança.

Dom Pero Fernandes Sardinha, cujo sobrenome passou a servir de pilhéria, uma vez que os índios poderiam tê-lo confundido com o peixe que lhe ensejara o sobrenome, sofreu outra ironia: ele e os 93 que se salvaram, depois do naufrágio nas costas de Alagoas, viajavam numa nau chamada Nossa Senhora da Ajuda.

O bispo tinha estranhas relações com o poder colonizador epocal. Mas, dos mortos nada se fala, a não ser o bem, como recomendavam os antigos romanos.

Para cada lindo Requiem de Mozart, tirado da súplica Requiem aeternum dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis (Senhor, dê-lhes o descanso eterno e que a luz perpétua os ilumine), há um sem-número de expressões vulgares, que contrastam com os dizeres dos epitáfios, que estão entre os primeiros registros históricos e as primeiras manifestações literárias e filosóficas.

Tais expressões às vezes revelam até certa obscenidade no modo como são comentados os mortos ou aqueles cuja morte é desejada, de que são exemplos no Português as seguintes mesclas de frases irônicas e sarcásticas, em meio a reflexões de elevada espiritualidade.

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Empacotar. Desencarnar. Estar mais pra lá do que pra cá. Dar o último suspiro. Esticar as canelas. Abotoar o paletó. Passar desta para a melhor. Estar nas últimas (horas, forças etc.). Entregar sua alma a Deus. Satanás está esperando.

As redes sociais não esconderam tais terríveis presságios na semana passada, quando o presidente Temer foi internado para tratar de uma obstrução urológica.

Aliás, ele tem estado às voltas com outras tantas obstruções, incluindo aquelas que ele mesmo deflagra para impedir que o braço longo da lei chegue até ele e seja investigado. Na semana passada ocorreu a segunda mobilização da Câmara Federal para obstruir mais uma investigação.

Seja poupado no Dia de Finados, quando todos os mortos são lembrados, mesmo os anônimos, seja louvado no Dia de Todos os Santos, que, aliás, inclui também o Dia de São Nunca, outra expressão peculiar ao Português para designar uma conta que não se pode ou não se quer pagar, o certo é que seria de todo salutar que não fôssemos presididos por um presidente morto-vivo ou morto e vivo.

Dados os rumos que o presidente Temer vem imprimindo à vida econômica, que apresenta índices de recuperação invejáveis, sobretudo quando comparados aos estragos de sua antecessora, Dilma Rousseff, o melhor que lhe poderia acontecer para escapar a obstruções e situações de morto-vivo pode ser visto no exemplo do político alemão Konrad Adenauer, que liderou a recuperação da Alemanha no pós-guerra. Adenauer tinha 73 anos e depois disso dirigiu o país por 14 anos. Michel Temer era, então, um miúdo, uma criança, que nascera a 23 de setembro de 1940.

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Adenauer, reeleito várias vezes, renunciou aos 87, em 1963, e morreu em 1967, aos 91 anos.

O que leremos na biografia de Michel Temer? Que ele traiu a titular e tomou o poder por manipulações controversas? Bem, isso Getúlio Vargas também fez ao tomar o poder de Washington Luís, em 1930, de quem tinha sido ministro da Fazenda. Mas tal episódio ficou diluído em suas oceânicas realizações como presidente imposto pela Revolução de 30 e depois como presidente eleito, quando acabou por suicidar-se sem concluir o mandato.

E para fechar o tema da morte, dois antes, em 1928, o presidente Washington Luís, então com 59 anos, tinha sido baleado no Hotel Copacabana Palace, no Rio, por sua amante, a marquesa italiana Elvira Vishi Maurich, de apenas 28 anos.

Quatro dias depois a jovem apareceu morta. A polícia concluiu que tinha sido suicídio.

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