A Maria desta expressão é a rainha portuguesa Dona Maria I, mãe de Dom João VI, avó de Dom Pedro I, bisavó de Dom Pedro II, imperador carioca nascido no bairro de São Cristóvão, e trisavó da Princesa Isabel, a Redentora (assim apelidada por ter abolido a escravidão).
Quando veio para o Brasil com a Família Real, em 1808, já tinha perdido o juízo e passou a ser conhecida como A Rainha Louca. Certamente já tinha alguma avaria no bestunto quando em 1792 prolatou a famosa sentença de enforcar Tiradentes, esquartejá-lo e fixar pedaços do corpo em postes.
A sentença demorou dezoito horas para ser lida em praça pública e culminou com o enforcamento e o esquartejamento de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro.
Enviada a Ouro Preto num barril de salmoura e afixada num poste da praça pública, para apavorar eventuais novos libertadores, a cabeça do herói foi roubada quando o sentinela encarregado de proteger a relíquia dormiu.
O autor da façanha foi o padre letrado Manuel da Silva Gatto (com este nome…), que a escondeu em sua casa no Bairro das Cabeças (bairro predestinado!).
No leito de morte, ele fez a confidência ao escritor Bernardo de Guimarães, entregando-lhe a relíquia macabra. O autor de O Seminarista, de Escrava Isaura e de uma paródia pornô de I- Juca Pirama, de Gonçalves Dias, herdou a casa do padre e enterrou a cabeça no quintal.
Mas quem já estava sem cabeça era a Rainha Louca. Anos depois desta violência inaudita, as cortes afastaram do trono a soberana violenta e sanguinária, legando o poder ao príncipe regente, que depois se tornaria o rei Dom João VI.
Confinada a seus aposentos reais, no Convento do Carmo, no Rio de Janeiro, a rainha louca só saía dali acompanhada por diversas damas de companhia, senão aprontava coisas desatinadas.
Quando o povo via o cortejo pelas ruas, sabia que ela não decidira passear, tinha sido levada. Não parecia mais a tresloucada soberana que mandara enforcar e esquartejar Tiradentes. Agora era apenas uma Maria qualquer, sem vontade nenhuma, que era levada a passear com outras mulheres, muitas das quais chamavam-se Maria também.
E a rainha tornou-se apenas uma Maria que vai com as outras, expressão desde então aplicada a quem não tem opinião própria e segue a dos outros. Mas não deixa de revelar um preconceito contra as mulheres, pois há muitos joões e josés que estão sempre indo com os outros.
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