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Augusto Nunes

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PUBLICADO NO GLOBO DESTA SEGUNDA-FEIRA Enrascado com a história de consultorias fantasmas ou apenas suspeitas, Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, demonstrou há cerca de 10 dias ser mais sensato do que a presidente Dilma Rousseff. Em conversa com ela, disse que o melhor a fazer seria pedir demissão. Pouparia o governo de novos constrangimentos. E […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 09h52 - Publicado em 19 dez 2011, 20h20
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  • PUBLICADO NO GLOBO DESTA SEGUNDA-FEIRA

    fernando-pimentel-ministro-desenvolvimento-sao-paulo-20110930-size-598Enrascado com a história de consultorias fantasmas ou apenas suspeitas, Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, demonstrou há cerca de 10 dias ser mais sensato do que a presidente Dilma Rousseff. Em conversa com ela, disse que o melhor a fazer seria pedir demissão. Pouparia o governo de novos constrangimentos. E também se pouparia.

    Somente Pimentel sabe o que fez e o que deixou de fazer. E também amigos seus, alguns fornecedores e ex-fornecedores da prefeitura de Belo Horizonte que concordaram em sustentá-lo de 2009 a 2010. Naquele período, a Bolsa Consultoria garantida por eles deu tranquilidade a Pimentel para que desenhasse o seu futuro político – o governo do Estado ou o Senado. Disputou o Senado e perdeu.

    Agora, pragmático por formação, avalia que não deixará tão cedo de ser investigado pela imprensa. Quando nada porque lhe deu motivos de sobra para isso. Exemplo? Fechou contratos de boca com três dos quatro clientes que lhe pagaram um total de R$ 2 milhões. E preferiu silenciar sobre detalhes dos contratos e das supostas prestações de serviço.

    Um dos seus mantenedores desmentiu que o tivesse contratado. Alegou não dispor de dinheiro para tanto. Seu negócio era modesto. Modestíssimo. Um dia depois recuou do desmentido e anunciou que o contratara, sim. Quer situação mais atraente para que uma imprensa inquieta, disposta a fiscalizar o poder público, caia em cima sem piedade?

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    Esse é um dos seus papéis. E quando quer, ela o desempenha com mais eficiência do que os órgãos encarregados por lei da tarefa. De resto, a imprensa acreditou no modelito “faxineira ética” exibido por Dilma desde o início do seu governo. Por que então não ajudá-la a varrer os malfeitos? Nada mais patriótico. Lula deixou que eles se acumulassem.

    Na conversa com Dilma onde se dispôs a ir embora, Pimentel lembrou-lhe que ainda é jovem. Amargará um prejuízo maior ficando exposto a tiros do que saindo de cena para quem sabe voltar no futuro. A seu modo reflexivo e delicado, Dilma interrompeu o discurso de Pimentel para descartar de pronto sua sugestão.

    “E você acha que vou continuar fazendo tudo o que a imprensa quer?” – devolveu a presidente. Àquela altura, Dilma amadurecera a ideia que defenderia com desassombro quando jornalistas lhe perguntassem por que insistir em conservar Pimentel no governo. Vocês sabem a que ideia me refiro. É um tributo ao cinismo, convenhamos.

    “Não tem nada a ver com o meu governo. O que estão acusando [Pimentel], não tem nada a ver com meu governo”, repetiu Dilma na última sexta-feira. Dito de outra forma: o eventual malfeito cometido por Pimentel antes de virar ministro não é da conta da presidente e de ninguém. “É um problema pessoal dele”, segundo Dilma. Que tal? Não é formidável?

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    Exercício de lógica só por pura diversão: e se Pimentel fosse suspeito de no passado recente ter sido sócio de Fernandinho Beira-Mar ou de Nem? Ele permaneceria no governo? Ou a suspeita de apenas ter mentido ao distinto, distraído e volúvel público é um malfeito, digamos assim, menor, tolerável? Ou vai ver que nem malfeito é?

    A ideia de Dilma para salvar Pimentel da degola foi tomada emprestada à deputada federal Jaqueline Roriz, filha de Joaquim Roriz, quatro vezes governador do Distrito Federal. O Conselho de Ética da Câmara recomendou a cassação de Jaqueline porque ela se elegeu no ano passado com dinheiro de Caixa 2, como prova um vídeo. A deputada acabou salva por seus colegas sob a desculpa de que o crime ocorrera antes da eleição.

    Na última sexta-feira, um jornalista lembrou a Dilma que Antonio Palocci deixou a Casa Civil por ter se negado a dar informações mais precisas sobre consultorias que prestou a empresas – assim como Pimentel. Dilma rebateu: “Ele quis sair”. Registre-se que Pimentel também quis. Por ora sua sina será viver saindo de perto de jornalistas.

    Quanto a Dilma: uma vez livre do avental, está liberada para fazer o que queira, respeitadas as leis e consultado o Ibope amiúde. Pouco importa que seja incoerente ou contraditória. Ou que mande às favas todos os escrúpulos.

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