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‘Nós, os cegos’, um artigo de J.R. Guzzo

TEXTO PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DESTA SEMANA J.R. Guzzo Descobriu-se há pouco, no meio do tumulto ora estrelado pelo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, que uma certa Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, repartição pública subordinada a ele, ficou sem presidente durante quase um ano inteiro. É mais […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 09h44 - Publicado em 17 jan 2012, 20h03

TEXTO PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DESTA SEMANA

J.R. Guzzo

Descobriu-se há pouco, no meio do tumulto ora estrelado pelo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, que uma certa Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, repartição pública subordinada a ele, ficou sem presidente durante quase um ano inteiro. É mais uma oportunidade, entre tantas outras, para fazer uma observação de ordem prática. Qualquer coisa que fica um ano sem presidente, e sem que ninguém perceba, pode ficar desse jeito por mais dois, ou três ou sabe-se lá quantos — e nesse caso provavelmente não precisa de presidente nenhum. Economizam-se com isso o salário, o carro oficial e as outras despesas que pagamos para manter o emprego do doutor e não muda nada nos vales do São Francisco, do Parnaíba ou quaisquer outros. Pensando bem, já que o presidente não faz nenhuma falta, essa Codevasf também não faz; por que, então, não fechar a tralha toda? Além da economia, ganha-se em sossego. O que a companhia mais produz atualmente são inquéritos policiais — só neste momento, segundo o noticiário, há cinco investigações em andamento na Polícia Federal para apurar ladroagens variadas em sua administração.

Enfim, pensando ainda mais um pouco, talvez a melhor ideia fosse acabar logo de uma vez com o próprio Ministério da Integração Nacional. Que diabo seria isso — “integração nacional”? Ninguém é capaz de dar uma resposta coerente. Em compensação, sabe-se perfeitamente que funciona ali uma operosa central dedicada ao tráfico de verbas públicas, sempre em benefício dos que mandam no terreiro. No momento, justamente, o ministro Fernando Bezerra tenta explicar por que deu a Pernambuco, onde tem sua base e planos políticos, 90% das verbas contra enchentes que o ministério tinha para gastar em 2011, conforme divulgado por O Estado de S. Paulo. Aliás, ficou-se sabendo, no caso da Codevasf, que a estatal vinha mantendo um interino no lugar do presidente — e que esse interino, imaginem que surpresa, é irmão do ministro. Ainda não é tudo; as histórias de Bezerra, como a cebola, sempre têm uma camada a mais. Seu filho, deputado federal, revelou-se um campeão de “emendas” executadas com dinheiro do ministério ocupado pelo pai. Não se esqueceu da nora — seu pai e um tio foram nomeados para altos cargos na equipe do ministro.

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Segundo a Folha de S.Paulo, enfim, Bezerra comprou duas vezes o mesmo terreno, com dinheiro público, quando era prefeito de Petrolina, em Pernambuco. Sua explicação é que fez a segunda compra porque a primeira não foi registrada nos papéis da prefeitura. Como assim? Será que o ministro achou que a melhor maneira de regularizar a situação seria comprar o terreno de novo e pagar mais uma vez por ele? Não deu para entender nada. O que dá para entender, sem o menor trabalho, é algo bem simples. Se uma figura com esse desempenho pode ser ministro de estado, então o ministério que ele dirige não precisa existir. Não falem de nada disso perto da presidente Dilma Rousseff: ela fica muito brava quando alguém sugere que o governo poderia, quem sabe, aproveitar a próxima e anunciada reforma ministerial para fechar uma meia dúzia de ministérios, ou pelo menos um ou dois, entre os 38 que tem. Recentemente, com a habitual cortesia que utiliza ao comentar opiniões diferentes das suas, disse que só “quem é cego” pode falar em redução de ministérios. Será que não haveria algum mérito, por pequeno que fosse, na ideia de eliminar um ou outro ministério? Será que tocar no assunto é um absurdo tão grande assim? Afinal, há cinco ou seis ministros que só tiveram uma audiência com a presidente, ao longo de todo o seu primeiro ano de governo. Há um, inclusive, que conseguiu não ser recebido por Dilma uma única vez. O que esse homem está fazendo lá? E qual a utilidade que poderia ter o seu ministério? Esqueçam. Quem pensa em levantar esse tipo de questão é cego; a presidente não deixa por menos. (Uma de suas ministras poderia observar que a palavra correta, no caso, seria “deficiente visual”; mas, pelo jeito, achou melhor não dizer nada.)

Um governo que se considera a encarnação terrestre do Senhor Deus Pai, dos Doze Apóstolos e de todos os santos não tem dúvida sobre nada; só tem certezas. Mais um caso encerrado, portanto, principalmente quando se sabe que a maior disputa dentro do Palácio do Planalto, da “base aliada” e dos 38 ministérios é para ver quem concorda mais rápido com a presidente. O que continua em aberto, cada vez mais, é a comédia que eles apresentam todos os dias.

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