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‘As redações do Enem’, editorial do Estadão

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUARTA-FEIRA Depois de examinar mais de 30 textos enviados por candidatos que atingiram a pontuação máxima no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), acompanhados da confirmação, pelas universidades federais, de que foram aprovados no vestibular deste ano, o jornal O Globo constatou que muitas redações continham erros de grafia ─ […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 06h38 - Publicado em 20 mar 2013, 20h56
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  • PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUARTA-FEIRA

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    Depois de examinar mais de 30 textos enviados por candidatos que atingiram a pontuação máxima no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), acompanhados da confirmação, pelas universidades federais, de que foram aprovados no vestibular deste ano, o jornal O Globo constatou que muitas redações continham erros de grafia ─ como “rasoável”, “enchergar” e “trousse” ─ e graves erros também de concordância, acentuação e pontuação.

    Embora tenham recebido a nota 1.000, no Enem de 2012, essas redações não atenderam às exigências da primeira das cinco competências avaliadas pelos corretores, que exige dos estudantes demonstração do “domínio da norma padrão na língua escrita”. Numa das redações ─ que não recebeu a pontuação máxima, mas obteve nota alta ─ o estudante despreza o tema ─ “movimentos imigratórios para o Brasil no século 21″ — e descreve como preparar um miojo.

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    Cada competência tem a pontuação máxima de 200 pontos. Como informa o Guia do Participante, distribuído pelo MEC, os 200 pontos relativos à primeira competência só podem ser concedidos aos alunos que apresentarem “poucos desvios gramaticais leves”. Segundo o guia, “desvios mais graves excluem a redação da pontuação mais alta”. Ele é taxativo ao apontar, entre os “desvios gramaticais mais graves”, erros de grafia, de acentuação e de pontuação, como os que foram cometidos nas provas conferidas pelo jornal.

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    Pelas regras do Enem, essas redações não poderiam receber a pontuação máxima. “A atribuição injusta do conceito máximo a quem não teve o mérito estimula a popularização do uso da língua portuguesa, impedindo os alunos de falar, ler e escrever reconhecendo suas variedades linguísticas. Além disso, provoca a formação de profissionais incapazes de se comunicar, em níveis profissional e pessoal, e de decodificar o próprio sistema da língua portuguesa”, diz Jerônimo Moraes Neto, professor de Linguística Aplicada na UFRJ e na Uerj. “Na vida real, redações como essas jamais tirariam nota máxima, pois contêm erros que a sociedade não aceita. Afinal, pareceres, relatórios, artigos científicos, livros e matérias de jornal que contiverem esses desvios colocarão em risco o emprego de revisores, pesquisadores e jornalistas”, afirma o titular de Língua Portuguesa do Instituto de Letras da Uerj, Cláudio Henriques.

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    Criticando os modismos pedagógicos, ele lembra que os corretores dos textos do Enem não utilizam a palavra erro, trocada por desvio ─ que seria mais politicamente correta. “A demagogia política anda de braço dado com a demagogia linguística”, adverte. Há dois anos, a imprensa noticiou que o MEC distribuía, por meio do Programa Nacional de Livros Didáticos, obras que toleram ─ e até justificam ─ erros gramaticais. O livro mais polêmico considerava correta, por exemplo, a frase “nós pega o peixe”.

    Justificando a distribuição desse livro, as autoridades educacionais disseram, na época, que é preciso aceitar a fala que “o aluno traz de sua comunidade” e que “a cultura dele é tão válida quanto qualquer outra”. No caso dos textos do Enem que receberam pontuação máxima, apesar de estarem repletos de erros gramaticais, elas alegam que a correção de um texto é feita “como um todo”. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais afirma que “a tolerância deve-se à consideração de ser o participante do Enem, por definição, um egresso do ensino médio, ainda em processo de letramento na transição para o nível superior”. Segundo a nota, “um texto pode apresentar eventuais erros de grafia, mas pode ser rico em sua organização sintática, revelando um excelente domínio das estruturas da língua portuguesa”.

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    Esses argumentos são absurdos. Como admitir que vestibulandos ainda não saibam redigir um simples texto, por se encontrarem num “processo de letramento em transição”? E como aceitar que alguém que tenha “excelente domínio das estruturas da língua portuguesa” cometa erros gramaticais primários? As autoridades se esquecem de que, se continuarem sendo lenientes com deformações da língua portuguesa, o ensino formal não tem mais sentido. Se elas continuarem tolerando erros gramaticais primários, para que serve, então, a escola?

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