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Fóssil descoberto em São Paulo ajuda a entender evolução das aves

A boa qualidade do fóssil permitiu aos pesquisadores reconstruírem o cérebro

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 nov 2024, 16h47
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  • Um fóssil do Cretáceo Superior acaba de ser descoberto no Brasil, mas não se trata de qualquer fóssil. Navaornis hestiae, como foi batizado em homenagem seu descobridor, o paleontólogo William Roberto Nava, diretor do Museu de Paleontologia de Marília, foi encontrado em rochas com idades que variam entre 83,6 e 72,1 milhões de anos em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, em estruturas conhecidas como Formação Adamantina. O fóssil excepcionalmente bem preservado é um elo importante para o estudo da evolução do crânio e do cérebro das aves, evidenciando a convergência evolutiva entre as espécies ancestrais e as aves modernas.

    VEJA MAIS: Como os melhores fósseis do mundo sobreviveram ao tempo

    Alguns fatores contribuíram para a preciosidade do achado. Um deles é que fósseis de aves do Mesozóico (período que abrange o Triássico, Jurássico e Cretáceo), são raros e geralmente achatados, o que dificulta o estudo da evolução do crânio e do cérebro das aves. O N. hestiae fornece um raro vislumbre da morfologia tridimensional do crânio de uma ave primitiva. A ave não possui dentes, tem grandes olhos, uma maxila dominante, além do crânio muito parecido com o das aves modernas. O fóssil pertence a um grupo de espécies extintas, os Enantiornithes, que coexistiram com os dinossauros. Os fósseis deste grupo são encontrados em todo o mundo, exceto na Antártica, atestando sua grande diversidade e ampla distribuição geográfica.

    Por que essa descoberta é importante?

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    Preenchendo uma lacuna, o N. hestiae se situa em um ponto crucial da árvore evolutiva das aves, entre o Archaeopteryx, a ave mais antiga conhecida, e as aves modernas. Essa posição permite aos pesquisadores entender melhor a sequência de mudanças que levaram a composição atual do crânio e do cérebro das aves modernas. “O crânio excepcionalmente bem preservado de Navaornis enfatiza a necessidade de crânios de aves mesozóicas não distorcidos, até então esquivos, para iluminar a complexa sequência pela qual os cérebros e crânios únicos das aves modernas surgiram.”, diz o estudo.

     

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    Cenário de reconstituição do Navaornis hestiae — (Julia d'Oliveira/Reprodução)

     

    A descoberta sugere que a forma básica do crânio das aves evoluiu antes da divergência entre enantiornitinas e as espécies que deram origem às aves modernas, há mais de 130 milhões de anos. No entanto, o crânio do Navaornis hestiae ainda retém muitas características primitivas, como um palato acinético (sem movimento) e uma configuração óssea temporal diapsida (com duas aberturas em cada lado do crânio), características comuns em répteis ancestrais.

    A boa qualidade do fóssil permitiu aos pesquisadores reconstruírem o cérebro e a orelha interna. Isso revelou que o cérebro do Navaornis hestiae apresenta uma combinação de características primitivas, como um cerebelo pequeno, e características mais modernas, como um cérebro flexionado ventralmente e lobos ópticos deslocados caudalmente. Em resumo, as descobertas feitas a partir do fóssil sugerem que a evolução do cérebro das aves foi um processo gradual e complexo, com diferentes partes do cérebro evoluindo em taxas diferentes. Ao mesmo tempo abre novas perspectivas para a pesquisa sobre a evolução das aves, ressaltando a complexidade e a beleza do processo evolutivo.

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