Meus textos e falas são contra a corrente. Todos ou a grande maioria afirma que o Brasil corre risco democrático. Como analista do cenário político considero que nossas instituições irão defenestrar Bolsonaro assim que existir a oportunidade, e isso só ocorrerá porque a democracia sobrevive e sobreviverá.
Entendo perfeitamente o discurso de “a democracia está em risco”. Ele mobiliza as pessoas para a ação, e isso faz parte de minha análise. Como há pessoas que valorizam e estão interessadas na democracia, estas pessoas irão agir coletivamente para impedir o desastre, que seria a implantação de uma autocracia no Brasil. Porém, o que faço é uma análise fria, a mais fria possível.
O que assegura nossa democracia é uma soma de fatores: o federalismo que faz com que inúmeros governadores queiram ser presidentes e, portanto, atuem para preservar o calendário eleitoral e a honestidade do pleito, o sistema eleitoral proporcional que resulta no pluripartidarismo e na impossibilidade de que o partido do presidente forme uma maioria esmagadora, a enorme divisão de poderes com diferentes instâncias judiciárias, e outras instituições como o Tribunal de Contas da União, as agências reguladoras, as procuradorias que, agindo de forma aleatória, impedem que o poder se concentre nas mãos de uma só pessoa.
Poderia listar aqui várias ações do poder constituído que limitaram e vêm limitando o poder do Presidente da República. Nada disso hoje adianta para persuadir quem acredita que caminhamos para a autocracia. Aguardemos. Fica aqui, todavia, o alerta: o Brasil é melhor e sua democracia é mais sólida do que imaginamos.