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AL VINO

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As novidades, tendências e delícias do mundo do vinho sem um gole de “enochatismo”. Marianne Piemonte é jornalista, sommelière e empresária do mercado de vinhos.
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Qual a receita mais saborosa para montar a melhor confraria de vinhos

Esses encontros para degustar e conhecer bons rótulos representam uma das formas mais leves e divertidas de aprender sobre a cultura dessa bebida

Por Marianne Piemonte
Atualizado em 9 Maio 2024, 15h01 - Publicado em 7 Maio 2024, 12h00

Estamos em meio a uma safra generosa de confrarias de vinhos. Basta dar um passeio pelo Instagram para se deparar com inúmeros jantares harmonizados, degustações e clubes de apreciadores da bebida. Não que esses grupos sejam exatamente uma novidade: na França do século XVIII, pré-Revolução Francesa, já havia relatos desses encontros, que eram restritos a autoridades e membros da realeza. O negócio começou a ganhar popularidade somente muito tempo depois, nos “loucos” anos 1920. Seja nas longas mesas da corte de Maria Antonieta ou atualmente nas cadeirinhas de praia espalhadas por anfitriões desses eventos em bairros descolados nas grandes capitais do Brasil, a essência das confrarias continua a mesma: reunir pessoas para degustar e conhecer vinho.

Aqui no Brasil, o empresário Adolar Herman ajudou a criar uma das primeiras confrarias, a Sociedade Brasileira Amigos do Vinho (SBAV), em 1980. A paixão por essa cultura fez com que o ele, já aposentado de uma bem sucedida carreira na indústria têxtil em Blumenau (SC) fundasse a Decanter, hoje uma das maiores importadoras do país, a única que em 2023 cresceu 25%.

confraria
Adolar: pioneiro das confrarias no país (Divulgação/VEJA)

Até hoje Adolar mantém uma confraria, agora dentro da sua empresa de vinhos, apoiado pelo sommelier da importadora, o premiado Tiago Locatelli. Esporadicamente, eles convidam profissionais do setor e jornalistas especializados para degustar e trocar ideias sobre os rótulos.

Tive a oportunidade de participar de uma em que fomos recepcionados quatro grandes ícones italianos, entre eles um Barolo DOCG Mosconi 2018, da Pio Cesare, e um Brunello di Montalciono Reserva 2018 – Adalberto, da vinícola Carprili. Tão impressionante quando os rótulos, foi a leveza com que Tiago conduzia as explicações e as histórias com que Adolar ilustrava a reunião entre um gole e outro. Sobre este último vinho, por exemplo, ele lembra de rodar por muitos quilômetros em uma estrada da Toscana para chegar a Caprili, depois de seguir a indicação de uma placa que dizia que a vinícola estaria a 6km dali. Já preocupado, parou para perguntar e descobriu que o enólogo italiano havia mudado a direção da placa, porque não queria ser interrompido durante a vinificação.

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“A Itália é a minha paixão, acho que estive por lá umas 40 vezes, dormi nas casas dos produtores para entender e conhecer os processos. Aquele país sempre o berço de grandes descobertas”, contou Adolar. Para ele, o ponto principal de uma boa confraria são as grandes descobertas. Boas histórias, aliás, vindas das mais diferentes regiões, nunca faltam nos eventos do tipo comandados por ele. “Há um viticultor esloveno que colhia bago por bago. Para não amassar as demais uvas do cacho, deixou a unha crescer para que funcionasse como uma pinça. Outro produtor, durante a lenta fermentação, colocava uma cadeira no meio das ânforas para meditar”, relembrou.

Não apenas de excentricidades e vinhos caríssimos são feitas as confrarias. O aprendizado é fundamental, mas aqui não me refiro a uma aula sobre tipo de solo ou de química. Falo sobre informações que podem ser históricas, muito mais do que aromas e sabores, que ajudem a entender estilos e aprimorar essa cultura de vinho. “Não tomo apenas Barolos e Brunellos”, disse Adolar, que mantém em sua adega cerca de 300 rótulos, mas já chegaram a ser 1.000, na sua casa. Ele inclusive diz que hoje muitos dos grandes vinhos não recebem a fama merecida, exatamente por não terem preços tão altos. É justamente nessa pegadinha que as confrarias podem ser tão importantes: elas podem ajudar os apreciadores à mesa a desvendar esses rótulos, diversificar uvas que normalmente você não escolheria, além de ser um método muito mais efetivo de fazer novas amizades e companheiros de mesa. Afinal, como diz o francês Jean Pierre Bernard, sócio da Vinhetica: “De que adianta uma adega cheia se você não tem com quem compartilhar?”. Está coberto de razão.

A seguir, cinco sugestões de Adolar Herman para quem quer começar sua confraria de vinho:

  1. Aconselhe-se. Hoje há uma série de profissionais sérios estudando uvas e regiões produtoras. Essa pessoa pode ser a responsável por organizar o tema de cada encontro.
  2. É importante ter um tema ou uma linha a ser seguida. Exemplo: “vamos apresentar Itália, começando sempre do vinho mais leve para o mais encorpado (aqui entra o ajuste do profissional sugerido no item anterior)”. Outra ideia, vinhos brasileiros do Cerrado ou de três regiões da França. A possibilidade de temas é infinita.
  3. Há confrarias em que cada participante fica responsável por trazer um vinho. Nesse caso, é importante organizar a faixa de valor a ser apresentada.
  4. Para os apaixonados, um curso básico de vinhos pode fazer muita diferença. Adolar sugere uma experiência: coloque algumas gotas de vodca, em um copo pequeno de água e experimente. A água irá parecer mais doce, portanto vinhos com muito álcool trazem essa sensação. Esse tipo de informação, irá ajudar a entender os estilos de vinho e assim suas escolhas serão ainda mais afinadas.
  5. Jantares harmonizados são uma delícia, mas não são uma obrigatoriedade em uma degustação. Água e um pãozinho (pode ser até um biscoito de água e sal), são suficientes para limpar o palato entre uma taça e outra.
  6. Para quem está começando, as degustações com muitos rótulos podem mais atrapalhar do que ajudar. Três a quatro rótulos por evento são suficientes para que se prove com calma e atenção.
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